O Brasil se encontra diante de um dilema em sua política para a América do Sul: precisa da confiança e da amizade de nações vizinhas caso queira se firmar mundialmente como interlocutor em foros internacionais, mas não está disposto a pagar qualquer preço por essa hegemonia. Os brasileiros já são investidores de grande porte na região, e seu financiamento faria falta ao Equador, ao Paraguai ou à Bolívia. O problema é que tais países e respectivos governos superestimaram a boa vontade do Planalto. Como receberam a mão, quiseram o braço. Agora, cabe ao governo Lula impor limites às operações financeiras e fazer cumprir os contratos assinados.
O processo de integração do subcontinente é freqüentemente comparado ao europeu. No entanto, o Brasil não está para a América do Sul como Alemanha e França estão para a Europa. Os entraves ao desenvolvimento nesta parte do planeta são muito mais graves que os enfrentados pela União Européia (UE) na Península Ibérica ou no Leste Europeu. Nem em tempos de crise financeira, nem durante a bonança, os cofres do BNDES poderão fazer pelos sul-americanos o que as maiores potências européias fizeram pelos sócios menores da UE. Portanto, ou deixamos claras as limitações e prioridades de nosso modelo de desenvolvimento, ou teremos mais dor de cabeça com os interesses conflitantes de líderes nacionalistas e partidários de uma integração entendida como tábua de salvação para dificuldades históricas.
Enquanto alguns questionam o empenho brasileiro pelo progresso da América do Sul e acusam Brasília de subjugar os países vizinhos com políticas exploratórias, o Itamaraty garante que o crescimento da desigualdade regional não interessa a ninguém. De fato, caso queira adquirir maior protagonismo no cenário global, o Brasil deverá provar seu potencial para administrar crises, promover uma cooperação equilibrada e defender a segurança jurídica.
O relacionamento com Equador, Paraguai e Bolívia, além das negociações com o Senado para a aprovação do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul, se perfilam como os mais intrigantes desafios da política externa de Lula neste fim de mandato. Mais complicado que resolver impasses localizados, como o calote equatoriano no BNDES, será desconstruir o estereótipo de potência dominadora que colou no Brasil.
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