Reajuste do preço da energia gerada na Hidrelétrica de Itaipu também será discutido pelos dois governos
Janaína Figueiredo
BUENOS AIRES e BRASÍLIA. Os governos do Brasil e do Paraguai decidiram ontem, em Foz do Iguaçu (PR), avançar na realização de uma auditoria sobre a polêmica dívida de Itaipu, estimada oficialmente em US$19,6 bilhões. Segundo informou ao GLOBO o engenheiro Ricardo Canese, coordenador da comissão de negociadores do Paraguai, o governo de Fernando Lugo propôs uma auditoria binacional, idéia enfaticamente rechaçada pelos negociadores brasileiros, comandados pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. O Brasil aceitou, no entanto, que a auditoria seja realizada por instituições paraguaias.
- Há 35 anos estamos pedindo uma auditoria e pela primeira vez o Brasil aceitou. Para nós é uma notícia positiva - disse Canese.
O assunto será discutido pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Lugo na próxima Cúpula de Presidentes do Mercosul, semana que vem, em Salvador. Os dois presidentes discutirão também os pontos mais delicados da negociação bilateral: o reajuste do preço da energia exportada pelo Paraguai ao Brasil e o direito, demandado pelo governo paraguaio, de dispor livremente do excedente produzido por Itaipu. Hoje o Brasil é o único país que tem direito a comprar a energia exportada pelo Paraguai, que disse já ter recebido pedidos de outros países da região, entre eles a Argentina. Em relação à dívida de Itaipu, Canese insistiu que seu país não está pedindo um perdão:
- O que estamos dizendo é que não podemos pagar uma dívida que nunca foi verificada e que, segundo nossos cálculos, já foi paga várias vezes.
Esta semana, O GLOBO divulgou detalhes de uma proposta elaborada pelo Paraguai assumindo US$600 milhões, enquanto o Brasil arcaria com US$19 bilhões. Esse valor seria correspondente à energia contratada entre 1985 e 2008. Nesse período, o Brasil usou 97% da potência de Itaipu e o Paraguai, 3%. Segundo autoridades paraguaias, nos últimos 25 anos o país pagou ao Brasil cerca de US$30 bilhões por dívidas de Itaipu.
Procurados por O GLOBO, Lobão e o chanceler Celso Amorim não foram localizados, segundo suas assessorias.
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