Pela primeira vez, governo ataca base de grupo radical e prende acusado de terror em Bombaim
ISLAMABAD
Forças de segurança do Paquistão invadiram ontem um campo de treinamento do grupo radical acusado pela Índia de ter sido o responsável pelo ataque que matou mais de 180 pessoas em Bombaim. Fontes militares e do governo paquistanês afirmam que o comandante militar da organização Lashkar-e-Toiba (LeT), Zaki-ur-Rehman Lakhvi, foi preso na ação, ao lado de até 20 integrantes do grupo.
O jornal paquistanês "Dawn" afirmou que as forças do governo lançaram uma "silenciosa grande operação" na região da capital da Cachemira paquistanesa, Muzaffarabad, contra o LeT, que foi posto na ilegalidade em 2002 depois dos ataques do 11 de Setembro, por pressão dos Estados Unidos. Escritórios do braço assistencial da organização, o Jamaat ud-Dawa (JuD), também teriam sido invadidos pelos militares, até mesmo em outras províncias do país, como no Punjab. O governo do Paquistão, porém, não confirmou - nem negou - a operação nem as prisões, mas tudo indica que se trata da primeira vez que Islamabad age contra o influente JuD.
Testemunhas disseram ter ouvido explosões e tiros no grande acampamento do JuD nos arredores de Muzaffarabad. Prédios teriam sido explodidos pelos soldados durante a invasão. A base do grupo tem um escritório, uma escola islâmica e casas para cerca de 150 moradores. Jornalistas não tiveram acesso ao local, que foi isolado pelos militares, mas um repórter da BBC disse ter visto pelo menos 14 veículos militares deixando o campo.
- Não sei detalhes, pois toda a área foi fechada, mas ouvi duas ou três explosões à noite depois que um helicóptero militar aterrissou - disse Nisar Ali, que mora perto do local.
Membros do governo, do Exército e da inteligência do Paquistão só falaram sob a condição do anonimato.
- Forças de segurança invadiram um acampamento do Jamaat ud-Dawa. Quinze pessoas foram presas - disse um militar que participou da operação ao jornal paquistanês "The Nation".
Prisão é marco na política do país
Uma fonte do serviço de inteligência confirmou ao jornal - de Lahore, a maior cidade do norte do Paquistão - que a operação foi motivada pelas acusações indianas de que o LeT foi o responsável pelo ataque a Bombaim e outros atentados recentes.
- A invasão foi feita para conseguir detalhes sobre as atividades do grupo na Cachemira no momento em que há alegações da Índia de que o LeT estava usando o território paquistanês para treinamento (de terroristas).
Entre os detidos, estaria um dos homens mais procurados pela Índia. Lakhvi é o comandante militar do LeT na Cachemira paquistanesa, base do grupo e de onde são lançados ataques à parte indiana da Cachemira e ao restante da Índia. O terrorista é acusado de ter planejado os ataques a Bombaim, treinado os radicais e mantido contato telefônico com os extremistas durante os três dias em que a capital financeira indiana foi mantida refém.
- Lakhvi está entre as quatro ou cinco pessoas presas na operação de ontem - disse um membro do JuD, organização que é acusada de ser só uma fachada para os radicais do LeT.
A suposta prisão de Zaki-ur-Rehman Lakhvi seria um marco na política paquistanesa. Agências de espionagem americanas, européias e indianas dizem que o Lashkar-e-Toiba tem ligação com o serviço de inteligência militar do Paquistão, sendo usado para realizar ataques na Índia. Os dois países disputam a região da Cachemira e já travaram três guerras desde a independência de ambos, em 1947.
O grupo também tem estreita ligação com a rede terrorista al-Qaeda, e vários de seus membros foram enviados para Afeganistão e Iraque.
Semana passada, o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari - cuja mulher, Benazir Bhutto, foi morta por extremistas islâmicos - disse que investigaria um possível uso de seu território para treinamento de terroristas. Mas afirmou que quaisquer pessoas presas seriam julgadas no Paquistão.
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