Roger Cohen THE NEW YORK TIMES
Os Estados Unidos e o Irã estão conversando sobre a eliminação de toda uma categoria de armas de destruição em massa. Isso é bom. Às vésperas da posse de Obama, isso mostra que não há nada no DNA dos dois países que impeça o diálogo. As discussões, geralmente ásperas mas nunca a ponto de uma ruptura, estão ocorrendo no âmbito da Organização para Proibição de Armas Químicas (OPCW na sigla em inglês). É algo que o mundo devia comemorar. A OPCW reúne 185 países que trabalham a fim de atender o deadline (29 de abril de 2012) para a eliminação dos responsáveis pela morte e agonia nos campos de Flanders na Primeira Guerra Mundial até o metrô de Tóquio em 1995. Países que representam 98% da população global aderiram à Convenção de Armas Químicas, que passou a valer 11 anos atrás. Mais de 40% das 71 mil toneladas métricas do mundo de componentes químicos declarados, a maioria nos EUA e Rússia, foram destruídos. Estados incluindo Albânia e Coréia do Sul já concluíram a destruição de suas armas químicas. Nos sítios americanos, russos, indianos, entre outros, o trabalho continua para assegurar que essas armas sejam eliminadas, e parem de ser produzidas ou usadas. – Trabalhamos por consenso, e o Irã e os EUA são peças chave nisso – explica Rogelio Pfirter, diretor-geral da Argentina da organização. – Por meio de engajamento, e apesar de grandes trocas, somos capazes de prosseguir na questão central de desarmamento e não-proliferação. Outro dia, na conferência anual da OPCW, eu sentei com Eric Javits, respeitado embaixador dos EUA, durante pronunciamento de Seyed Mohammad Ali Hosseini, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores iraniano. Referindo-se ao uso das armas químicas por Saddam Hussein durante a guerra Irã-Iraque, em ataques que deixaram mais de 100 mil iranianos mortos, Hosseini disse: – Como a última vítima de armas químicas, a República Islâmica do Irã acredita piamente que promover a paz e a segurança internacionais depende de um mundo livre da existência de armas de destruição em massa. Javits não se abalou quando Hosseini se referiu às armas nucleares e químicas do regime Sionista como a ameaça mais perigosa à paz regional e internacional. – Estou aqui para fazer com que todos se sintam parceiros – disse. – Incluindo os iranianos? – indaguei. – Sou cordial com eles, apesar de as negociações serem duras; eles estão comprometidos com essa organização por causa do que aconteceu com Saddam – respondeu. O embaixador disse ainda que conseguiu resultados por meio de uma diplomacia paciente. – Não trato de questões fora do âmbito da organização. A grande lição é que outras nações querem sentir que são tratadas pelos países maiores numa base igualitária. Isso é um exemplo de multilateralismo eficaz. Nós não soubemos usar a ferramenta multilateral de forma bem sucedida. No início do ano, na segunda conferência da organização, Javits desempenhou um papel decisivo para evitar um colapso. A temperatura esquentou quando o Irã achou que os EUA estava tentando transformar a OPCW numa organização antiterrorista mais concentrada nas inspeções de indústrias químicas para assegurar a não-proliferação do que na destruição de armas existentes. Aos 45 minutos do segundo tempo, uma solução equilibrando os dois objetivos foi encontrada. – Javits é um ouvinte paciente e isso é muito apreciado – disse Ali Reza Hajizadeh, conselheiro na embaixada iraniana. Há lições aqui. A primeira: ouvir é mais produtivo do que falar. A segunda: o diálogo será bem duro. Segundo Javits, consenso às vezes significa igual decepção, mas nem por isso tem menos valor. |
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Fim das armas de destruição em massa
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