Com isso, o volume de recursos mobilizados no combate à crise no Brasil já ultrapassa R$ 250 bilhões. O montante foi colocado à disposição do mercado por meio de linhas de crédito, liberação do compulsório e incentivos fiscais. Nem todo esse dinheiro, porém, foi efetivamente utilizado.
A maior parte desse valor - cerca de R$ 135 bilhões - foi colocada à disposição por meio da liberação do compulsório (dinheiro dos bancos que fica retido pelo Banco Central). Outra medida que envolveu uma soma significativa foi a regra que possibilitou a troca de moedas entre o Banco Central brasileiro e o americano (Fed), em um valor equivalente a R$ 72 bilhões.
As linhas de crédito liberadas pelo BNDES e pelo Banco do Brasil para empresas exportadoras e para produtores agrícolas somaram R$ 30 bilhões. Outras medidas perfazem mais R$ 15,8 bilhões.
Tamanho do problema
As medidas anunciadas nesta quinta-feira, no entanto, têm uma característica diferente, de acordo com o economista Cláudio Gonçalves, do Corecon-SP. "É dinheiro que sai do bolso do governo diretamente para a classe média", diz.
Entre as medidas anunciadas estão mudanças nas alíquotas do Imposto de Renda e descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de carros novos. Além disso, o Banco Central está autorizado a usar parte das reservas internacionais para financiar empresas brasileiras no exterior.
Para Gonçalves, o pacote coloca o Brasil em uma nova fase do combate à crise. "Agora, de fato, o governo está começando a enxergar o tamanho do problema", diz.
Segundo ele, o foco até então vinha sendo a liquidez do mercado, ou seja, a falta de recursos para financiamentos, sobretudo para as empresas.
Com o agravamento da crise e os sinais de desaquecimento no consumo, o governo brasileiro partiu para uma nova etapa. "Faltava o governo abrir mão de receita, o que está sendo feito agora", diz.
Mundo
As principais economias do mundo vêm adotando pacotes para amenizar os impactos da crise. Nos países ricos, o foco tem sido a ajuda direta a instituições financeiras e o estímulo ao consumo.
Nos Estados Unidos, epicentro da crise, a estimativa é de que já tenham sido colocados à disposição do mercado cerca de US$ 7,3 trilhões. O cálculo é da rede de TV americana, CNBC.
A Grã-Bretanha anunciou um plano de resgate a instituições financeiras no valor de US$ 75 bilhões, além de outros US$ 300 bilhões em linhas de crédito para empresas. Mais recentemente, o país concedeu descontos em impostos no valor de US$ 30 bilhões.
No Japão, estima-se que as medidas anticrise já tenham mobilizado US$ 275 bilhões. Entre elas está a concessão de "mesadas" a famílias com no mínimo quatro pessoas, somando US$ 2 bilhões.
Conta-gotas
No Brasil, o governo não precisou ajudar ou recuperar instituições financeiras à beira da falência. No país, as conseqüências da crise ficaram mais evidentes na falta de recursos para financiamentos às empresas e no encarecimento do crédito. Por isso as medidas tinham como foco a injeção de liquidez no sistema financeiro.
O economista da PUC-SP, Antônio Correa de Lacerda, diz que as medidas anunciadas nesta quinta-feira pelo governo brasileiro "chegam atrasadas".
"O grande desafio dos governos nesse momento é agir antecipadamente, ajustando a embarcação aos novos mares", diz.
Segundo ele, enquanto a maioria dos países demonstra um esforço em estimular o consumo, no Brasil a política macroeconômica "não foi ajustada para lidar com a crise".
"As medidas têm sido tímidas. A política monetária, por exemplo, com juros altos, não colabora".
De acordo com Lacerda, o governo tem margem para fazer uma renúncia fiscal mais agressiva. "É melhor abrir mão de alguma receita agora do que perder tudo lá na frente", diz.
Já o economista do Corecon, Cláudio Gonçalves, diz que o governo brasileiro vem adotando as medidas no tempo certo. "O governo tem demonstrado prudência ao tomar iniciativas de acordo com cada estágio da crise", diz.
De acordo com Gonçalves, a carga tributária brasileira é muito complexa, o que dificulta a decisão por uma renúncia fiscal. "Até temos certa gordura para gastar, mas isso tem que ser muito bem costurado", diz.
Além disso, diz, o Brasil tem um histórico "ruim" de mudanças nas regras do jogo e só recentemente conquistou a confiança do mercado. "No nosso caso, é melhor uma política mais conservadora, a conta-gotas", diz.
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