Governo recebe ameaças de ataques em aeroportos. Condoleezza Rice pressiona Paquistão
Florência Costa
O presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, prometeu à secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, tomar "ações fortes" contra qualquer pessoa ou grupo de seu país que estiver envolvido no ataque da semana passada a Bombaim, que deixou quase 200 mortos. Condoleezza se reuniu com líderes do Paquistão em Islamabad um dia depois de visitar a Índia, que ontem decretou estado de alerta total em seus aeroportos devido a uma ameaça de seqüestros de aviões e ataques suicidas no estilo do 11 de Setembro.
Uma onda de boatos correu ontem o país dizendo que o aeroporto internacional Indira Gandhi, na capital Nova Délhi, teria sido atacado por seis atiradores na noite de ontem. A polícia, porém, negou qualquer incidente.
Centenas de soldados foram enviados para os aeroportos de Nova Délhi, Bangalore e Madras. A Força Aérea preparou um plano de defesa para ataques em várias cidades, especialmente a capital. O alerta total vai permanecer em vigor até sábado, dia em que se completarão 15 anos da destruição da mesquita Babri Masjid por hindus radicais, na cidade de Ayodhya, norte da Índia, que provocou violência entre hindus e muçulmanos.
- Essa advertência (sobre um suposto plano terrorista de ataque aéreo) foi recebida pelo governo e estamos preparados - disse o chefe da Aeronáutica, Fali Homi.
Segundo jornais e TVs indianos, o governo americano pediu ao Paquistão que desmantele o Lashkar-e-Toiba (LeT) e seu braço político, o Jamaat-ud-Dawa, que funciona legalmente no país. Condoleezza também solicitou a prisão do chefe do grupo, Hafeez Mohd Saeed, atendendo a um pedido do governo indiano, que entregara durante a semana uma lista de 20 suspeitos de terrorismo ao Paquistão. De acordo com a imprensa indiana, Nova Délhi tem provas de que membros do serviço secreto militar paquistanês, o ISI, estão envolvidos no atentado.
O governo indiano já teria em mãos os nomes dos membros do ISI que teriam organizado o ataque, e também os locais onde teria sido realizado os treinamento dos terroristas. O ISI - segundo especialistas - é uma estrutura que já fugiu das rédeas do Estado paquistanês, com parte de seus integrantes envolvidos com terrorismo.
Os militares, como um todo, têm uma força desproporcional na frágil democracia paquistanesa. Uma mostra disso seria o fato de Condoleezza ter se reunido antes com o general Kiyani, chefe do Exército, e só depois ter se encontrado com o presidente.
Presidente promete agir contra o terror
Condoleezza encabeça uma espinhosa missão para apaziguar os ânimos entre as duas potências nucleares, que tiveram suas relações estremecidas após a Índia acusar o Paquistão de envolvimento no ataque a Bombaim. Ela pediu a Zardari que adote uma resposta "robusta".
- O governo vai não só ajudar na investigação como também adotar ações fortes contra qualquer elemento paquistanês que estiver envolvido no ataque - prometeu Zardari.
Após o encontro com Zardari e com o premier, Yousuf Gilani, Condoleezza disse que ambos estão "comprometidos" a colaborar com a Índia nas investigações, e também no combate ao terrorismo. Ela descreveu seu encontro como "bastante satisfatório".
- O governo paquistanês não quer ser associado a elementos terroristas, e está de fato lutando contra eles - comentou ela, referindo ao governo civil que está no poder há oito meses, após oito anos da ditadura militar do general Pervez Musharraf.
Respondendo a uma pergunta sobre o compartilhamento de evidências da autoria do atentado entre a Índia e o Paquistão, ela disse:
- Há muita informação sobre o que aconteceu. Então, não é uma questão de compartilhar evidências. Essas informações precisam ser usadas agora para capturar os autores, e para evitar que ele façam isso de novo.
Em entrevista, antes de deixar Islamabad, Condoleezza disse:
- Esse foi um ataque terrível, com um nível de sofisticação que não havíamos visto ainda no Subcontinente Indiano.
O único terrorista preso, Ajmal Qasab, informou à polícia - segundo o "The Indian Express" - que 24 terroristas foram treinados juntos nos campos do Lashkar-e-Toiba no Paquistão. No ataque a Bombaim teriam participado dez: nove foram mortos e um, preso. Há a suspeita de que os 14 restantes poderiam ter entrado na Índia para atacar Nova Délhi.
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