segunda-feira, 26 de maio de 2008

Aventura e sacrifício no Amazonas


Profissionais de saúde se arriscam para tratar de índios
Demétrio Weber
ALDEIA SÃO SEBASTIÃO, VALE DO JAVARI (AM). Não é fácil trabalhar no meio da Floresta Amazônica, ainda mais em aldeias indígenas de difícil acesso e sem infra-estrutura. Os profissionais de saúde que se aventuram no Vale do Javari, no Oeste do Amazonas - uma área equivalente a Santa Catarina -, vão ao banheiro no mato, bebem água de rio, dormem em redes, tomam banho em igarapés e vivem picados por mosquitos. Uma hora ou outra, todos contraem malária. Os deslocamentos são feitos de barco, em viagens que podem durar até 12 dias, chova ou faça sol.
- Não é pela grana. Tem que ter muito idealismo e dedicação - diz a enfermeira Michelle Silva, de 26 anos.
Como o GLOBO mostrou, ontem, os 3.700 índios que vivem na região têm índices de mortalidade infantil cinco vezes superior à média nacional e não contam com um médico sequer. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) organizou uma operação de emergência para atender a essas comunidades, que sofrem ainda com doenças como a malária e a hepatite.
Formada em Campinas (SP), Michelle ingressou na equipe da Funasa em Atalaia do Norte, município do Amazonas, responsável pelo atendimento no Vale do Javari, a exemplo de colegas de faculdade. Ela está lá há um ano e cinco meses. Seus colegas já foram embora. O salário de R$5,5 mil por mês, em média, não é suficiente para atrair e manter os profissionais na região.
Além das condições precárias de trabalho na selva, a enfermeira convive ainda com a burocracia. O dinheiro é repassado pela Funasa, mas quem contrata são as prefeituras:
- Não tenho carteira assinada nem contrato. Todo mês o dinheiro entra na minha conta. De vez em quando recebo contracheque - diz.
A escala das equipes de saúde prevê 45 dias de atividade por 15 de descanso. O técnico em enfermagem Everaldo Mendes, de 34 anos, pegou malária em abril, na primeira etapa da operação deflagrada em conjunto com as Forças Armadas. Na semana passada, ele continuava trabalhando, apesar de ainda estar em tratamento.
- Aqui, repelente é perfume para os mosquitos. O pior são os efeitos colaterais, como insônia e perda de apetite - diz o profissional.
O diretor de Saúde Indígena da Funasa, Wanderley Guenka, sentiu as dificuldades na pele: saiu com os braços cobertos de picadas de mosquito e teve que tomar banho com a água de três canecos, depois que o poço secou.
O repórter viajou de Cruzeiro do Sul (AC) às aldeias a convite da Funasa.

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