sexta-feira, 16 de maio de 2008

Líder arrozeiro acusa governo e ministro de fazerem "terrorismo"

Paulo César Quartiero (DEM) diz que Tarso Genro foi o responsável por conflito em Roraima; ele afirma também que o índio, "como ser humano, não quer evoluir"
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Personagem principal da polêmica envolvendo a demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, o líder arrozeiro e prefeito de Pacaraima (RR), Paulo César Quartiero (DEM), 55, acusou o governo federal e o ministro Tarso Genro (Justiça) de fazerem terrorismo na terra indígena. Segundo ele, o confronto entre índios e funcionários de sua fazenda, na semana passada, foi "orquestrado". O Ministério da Justiça não quis se manifestar sobre as declarações. Ontem, um dia depois de ser solto pela Justiça, Quartiero visitou deputados no Congresso.
FOLHA - O sr. disse que o confronto na reserva se agravaria se a política do governo fosse mantida. Isso acontecerá mesmo se o STF confirmar a demarcação contínua?
PAULO CÉSAR QUARTIERO - Com certeza, a questão é emblemática. Só 7% de Roraima pode ser utilizada por qualquer atividade econômica. É condenar a população ao aniquilamento.
FOLHA - E a convivência com os índios?
QUARTIERO - Nós defendemos os índios! Quem condena é essa política. Há áreas demarcadas há 20, 30 anos, nenhuma produtiva. Alguns índios sobrevivem com cesta básica. Por que temos que condená-los a viver como antigamente?
FOLHA - E a tradição dos índios?
QUARTIERO - Se você disser que a tradição indígena é viver fodido, então concordo. Se você me disser que o índio, como ser humano, não quer evoluir, então concordo. Está faltando oportunidade. Meu vice-prefeito é índio, há índios advogados.
FOLHA - O vice-prefeito é contrário aos arrozeiros.
QUARTIERO - Ele se vendeu. Era do nosso grupo. Mudou de lado.
FOLHA - Por quê?
QUARTIERO - Ofereceram mais. Infelizmente índios são como políticos, procuram o interesse próprio. Vai lá perguntar se eles querem viver carregando coisas nas costas. Não querem! Querem celular, futuro para os filhos, dentista. Se você quer o contrário, vamos trancá-los em um zoológico e condená-los a viver como na idade da pedra.
FOLHA - E o ataque dos funcionários de sua fazenda aos índios?
QUARTIERO - Foi orquestrado. Aqueles índios foram levados pela Funai, em veículos da missão católica, que tem interesse em retirar os evangélicos da região. Tudo com o apoio da PF. Eles sabiam que se entrassem haveria confronto. Esses feridos foram a pior coisa para nós. Eles buscam um mártir, como Dorothy Stang e Chico Mendes. Empurraram os índios como bucha de canhão para que se transformem em mártires.
FOLHA - O sr. deu ordem para atirar caso alguém entrasse na fazenda?
QUARTIERO - Ninguém tem ordem para isso. Não queremos ferir os índios, que são vítimas. Os verdadeiros culpados estão em gabinetes. O ministro da Justiça esteve lá no dia seguinte. Por que não foi antes, para tentar evitar o conflito? Ele é o responsável. O ministro vê a fogueira e joga gasolina!
FOLHA - Tarso Genro disse que o ataque de arrozeiros aos índios foi um "ato terrorista".
QUARTIERO - Terrorismo, só que de Estado. Ele mandou 500 policiais federais e da Força Nacional para tirar as pessoas na ponta do fuzil. Quem está fazendo terrorismo é o governo, através do ministro da Justiça.
FOLHA - O que o sr. achou da saída de Marina Silva?
QUARTIERO - Ela criou um retrocesso. Já vai tarde.

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