quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Chávez "esvazia" governo de Caracas

Governador distrital recém-eleito, opositor Antonio Ledezma perde funcionários e poderes para administrar cidade

Por decreto, presidente venezuelano assume um canal de TV, 30 hospitais, 22 cartórios e todas as 93 escolas metropolitanas

FABIANO MAISONNAVE

DE CARACAS

 

Recém-eleito governador distrital de Caracas, o líder opositor Antonio Ledezma corre o risco de não ter o que administrar: desde as eleições, há dez dias, o governo Hugo Chávez encampou cerca 30 hospitais, o canal Ávila TV, 22 cartórios públicos e todas as 93 escolas da rede metropolitana.

Ao todo, o governo distrital -que coordena cinco prefeituras e uma população de 2,1 milhões- terá de 25 mil a 30 mil funcionários a menos, segundo estimativa de Ledezma, que toma posse neste sábado -não há período de transição para governadores e prefeitos na Venezuela. Só na rede escolar, o Ministério da Educação incorporou mais de 50 mil alunos e cerca de 4.000 professores.

"Trata-se de um processo de desmantelamento da Prefeitura Metropolitana, o que é muito lamentável porque acreditam que, dessa maneira, não honraremos o compromisso de governar para a cidade com eficiência", disse Ledezma ontem, à Folha. "É uma canibalização e uma prova de fogo a que nos vão submeter, mas conseguiremos avançar, estou otimista."

Segundo o atual secretário de Educação de Caracas, Néstor Rivero, as transferências não têm ligação com a vitória de Ledezma e fazem parte de um plano desenvolvido desde o início do ano.

"O Orçamento de Caracas tem sido historicamente insuficiente para assegurar a manutenção e o investimento na estrutura física das escolas", explicou Rivero, por telefone.

O esvaziamento do governo distrital começou já no início do ano, quando Chávez passou a Polícia Metropolitana ao Ministério do Interior. Na época, outro oposicionista, Leopoldo López, liderava com folga as pesquisas, mas ele em foi declarado inelegível.

"Mesmo sem a educação, a segurança e a saúde, o governo distrital ainda tem muito o que fazer para assegurar a coordenação entre as cinco prefeituras. Ainda há prevenção de desastres, lixo, são muitas funções que ficam", afirma Rivero.

No projeto da reforma constitucional do ano passado, derrotada em referendo, o governador distrital passaria a ser nomeado diretamente por Chávez, sem eleições. Caracas também mudaria de nome -passaria a ser chamada Berço de Bolívar e Rainha de Guaraira Repano (etnia indígena).

Os problemas de transferência também atingiram a Conselho Metropolitano de Caracas, onde a oposição passou de 2 para 8 dos 13 parlamentares: o prédio onde estava instalado foi tomado de volta pela Assembléia Nacional, controlada pelo chavismo. Com isso, a posse será amanhã num auditório emprestado. "Existe o espírito de sabotar e de fazer tudo mais difícil", disse o parlamentar oposicionista Alejandro Vivas.

Já no governo estadual de Miranda (região metropolitana de Caracas), o recém-empossado Henrique Capriles Radonski descobriu que grande parte da estrutura pertence ao governo nacional. "É como chegar a um prédio novo. Eles te dão a chave, mas não mostram para que servem", disse a secretária de Governo Adriana D"Elía.

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