Chanceleres da aliança anunciam retomada das conversas, que estavam congeladas desde setembro, após conflito no Cáucaso
Adesão de Geórgia e Ucrânia fica postergada; recuo é fruto de pressões dos países europeus, que dependem do gás e do petróleo russos
DA REDAÇÃO
A Otan (aliança militar ocidental) retomou ontem o diálogo com a Rússia, congelado desde setembro em represália ao suposto uso desproporcional da força pelo Exército russo na guerra contra a Geórgia, no mês anterior.
O gesto, anunciado em encontro de chanceleres da aliança em Bruxelas, sinaliza um recuo do Ocidente no atual embate diplomático com Moscou.
Em outra vitória política para o Kremlin, a Otan também decidiu postergar indefinidamente a adesão da Geórgia e outra ex-república soviética, a Ucrânia -os dois países se dizem ameaçados pela Rússia e pedem para entrar na aliança.
"Geórgia e Ucrânia devem se comprometer a cumprir as reformas políticas e militares que lhes foram exigidas para fazer parte da aliança", disse o holandês Jaap de Hoop Scheffer, secretário-geral da Otan.
Scheffer ressaltou que a reaproximação com a Rússia será "gradual" e começará com encontros bilaterais "informais".
Apesar do anúncio de ontem, os 26 países-membros da Otan continuam divididos sobre a relação com a Rússia. Os Estados Unidos, que protagonizaram a Guerra Fria com a União Soviética, lideram o campo dos céticos, que criticam o suposto belicismo de Moscou e querem uma adesão rápida das ex-repúblicas soviéticas, para reforçar a presença militar ocidental na ex-zona de influência russa.
Mas vários países-membros, principalmente potências da União Européia (UE) como França e Alemanha, dependem das importações energéticas russas e defendem uma abordagem cautelosa. Moscou fornece 40% do petróleo e gás consumidos na Europa.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, negou que a Casa Branca tenha se curvado à UE. Ela destacou que "as coisas [em relação à Rússia] estão longe de ter voltado ao que eram" e insistiu em que as "portas da Otan estão abertas" à Geórgia e Ucrânia.
A reunião de ontem estava planejada antes do conflito de seis dias deflagrado em 7 de agosto, quando a Geórgia invadiu a região separatista da Ossétia do Sul -desde 1992 sob tutela russa dentro de acordos internacionais.
O conflito terminou graças à mediação da UE, que pressionou as partes a aceitar um plano de paz prevendo a retirada russa do território georgiano -mas em termos vagos- e o envio de monitores europeus.
Mesmo no papel de negociadores, os europeus criticaram a resposta russa ao ataque georgiano e o reconhecimento por Moscou da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, o que foi considerado pela UE uma violação da integridade territorial da Geórgia.
Mas os interesses pragmáticos prevaleceram sobre a irritação do bloco europeu. Os chanceleres da UE aproveitaram o encontro de Bruxelas para anunciar a retomada das conversas com Moscou sobre um novo tratado de cooperação com a Rússia, também engavetado desde a guerra na Geórgia.
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