Governo entregará dossiê a Condoleezza Rice provando participação de país vizinho em ataques a Bombaim
Florência Costa
NOVA DÉLHI. O ministro das Relações Exteriores da Índia, Pranab Mukherjee, disse ontem que não descarta a hipótese de uma ação militar contra campos de treinamento de terroristas no Paquistão. A declaração colocou mais lenha na fogueira das estremecidas relações entre os dois países e foi feita na véspera da visita da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, a Nova Délhi. Condoleezza desembarca hoje na capital indiana justamente com o objetivo de atenuar a crise entre as duas potências nucleares.
Segundo fontes do governo indiano, será entregue um dossiê com provas do envolvimento de terroristas paquistaneses no ataque a Bombaim que deixou quase 200 mortos e mais de 300 feridos. Entre as acusações, a Índia vai informar que os terroristas foram treinados por ex-militares paquistaneses em campos operados pelo Lashkar-e-Toiba (LeT).
Ontem o chefe da polícia de Bombaim, Hasan Gafur, deu oficialmente as primeiras informações sobre as investigações. Ele disse que os terroristas espalharam cinco bombas: uma perto do hotel Taj Mahal, outra nas proximidades do hotel Oberoi e as três restantes em táxis. Gafur afirmou que os terroristas eram paquistaneses - inclusive o único que foi preso com vida - e que eles saíram de barco da cidade de Karachi, na costa paquistanesa.
Em entrevista para a TV NDTV, o ministro do Exterior da Índia cobrou do governo do Paquistão ações imediatas para acabar com os campos de treinamento de grupos terroristas em seu território, que seriam usados para atacar o território indiano:
- Todos os países soberanos têm o direito de defender sua integridade territorial e tomar as ações apropriadas quando achar que for necessário - disse Pranab Mukherjee ao ser perguntado se descartava uma ação militar no Paquistão.
Ele disse que está difícil continuar o processo de paz entre Índia e Paquistão na atmosfera tensa após o atentado:
- Houve o ataque em Cabul (contra a embaixada indiana, em julho) e agora o ataque a Bombaim. Se esses incidentes não tiverem a resposta adequada do outro lado (Paquistão), será difícil levar o processo de paz adiante - disse o chanceler.
Mais tarde, em declarações a jornalistas, Mukherjee foi mais cauteloso. Perguntado se suas palavras não poderiam ser consideradas como uma ameaça de ação militar contra o Paquistão, ele disse:
- Não há qualquer desentendido (possível). Ninguém aqui está falando de ação militar.
Presidente paquistanês diz que terroristas são apátridas
Ontem, Nova Délhi exigiu ao Paquistão que extradite 20 terroristas que estariam refugiados no Paquistão e teriam organizado ataques contra a Índia. O país demanda a captura e extradição de Hafiz Mohammad, chefe do LeT. Além disso, a Índia quer a prisão de Maulana Massod Azhar, líder do grupo Jaish-i-Mohammed, que oficialmente foi banido. Ele foi libertado de uma prisão indiana em troca de passageiros de um avião seqüestrado em 2000.
Outro é Dawood Ibrahim, ex-chefe da máfia de Bombaim que teria apoiado vários ataques contra a Índia, inclusive este último, segundo o serviço de inteligência indiano.
- Temos que ler essa lista e vamos elaborar uma resposta formal - reagiu a ministra da Informação paquistanesa, Sherry Rehman, em Islamabad.
O presidente do Paquistão, Asif Zardari - viúvo da ex-premier Benazir Bhutto, morta por terroristas islâmicos - negou que seu país esteja envolvido nos ataques.
- Acredito que são radicais apátridas que agem na região e tomam o mundo inteiro como refém - disse Zardari.
Shah Mehmood Qureshi, ministro do Exterior do Paquistão, propôs ontem que a Índia aceite a formação de uma comissão conjunta para investigar o atentado a Bombaim. Em entrevista a uma TV paquistanesa, ele procurou acalmar a população:
- Quero dizer ao povo que não há motivo para preocupação. O governo e as Forças Armadas do Paquistão estão unidos e são capazes de defender a fronteira do país, o seu território e os seus interesses - afirmou Qureshi.
Condoleezza Rice se reúne hoje com o premier indiano, Manmohan Singh, e o chanceler Mukherjee. O clima em Nova Délhi é de muito nervosismo, e a opinião pública está agitada.
A Índia sofreu ontem um novo ataque terrorista. Uma mochila com uma bomba foi detonada num trem no estado de Assam, no extremo oriente do país, matando três pessoas e ferindo 29. As autoridades, no entanto, acreditam que radicais islâmicos não estariam envolvidos no ataque, mas um movimento separatista local, conhecido como Frente Nacional de Libertação Karbi Longri.
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