Os brasileiros estão conhecendo, de forma indigesta e surpreendente, o outro lado da ascensão ao poder de governos de corte nacional-populista na América do Sul. De país mais importante, com uma agenda de integração continental, um setor privado forte e recursos para investir no desenvolvimento regional, o país passa a vilão, um aprendiz de imperialista a submeter os vizinhos a dívidas externas questionáveis.
Mudaram eles ou mudou o Brasil? Todos. Países como Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai, sob a batuta de Hugo Chávez e inspiração cubana, criaram um bloco de contestação aos EUA e, em parte, também ao Brasil. Este é o líder natural da América do Sul e, tradicionalmente, um interlocutor confiável de todos. Mas tem essa condição disputada por Chávez, populista, estridente e autoritário. O governo Lula trocou o profissionalismo do Itamaraty por uma política externa de afinidades ideológicas, sustentada na premissa de que o Brasil deve ser maleável em relação a seus próprios interesses e levar em conta os dos vizinhos, que elegeram líderes supostamente capazes de ajustar contas com séculos de domínio de elites espoliadoras. Por isso, a postura inicial de Brasília em relação a esses governos foi leniente, o que os animou a assumir a ofensiva contra os interesses nacionais. O exemplo foi a decisão de Morales de ocupar militarmente uma usina da Petrobras, prejudicando o abastecimento de gás ao parque industrial brasileiro.
Com o tempo, o Brasil fez ajustes em sua política externa. O que não impediu o Equador de submeter à arbitragem internacional uma dívida de US$286 milhões junto ao BNDES. O que espanta, no caso, é que o próprio governo brasileiro tenha cedido ao Equador uma especialista para trabalhar na auditoria da dívida externa do país, conforme reportagem do GLOBO. O escritório de advocacia americano contratado pelo Equador é o mesmo que já trabalha para Bolívia e Venezuela, países dispostos a seguir o exemplo de Quito, o que denuncia a trama. O Paraguai também contesta a legitimidade de sua dívida externa, inclusive a que contraiu junto ao Brasil para a construção da hidrelétrica de Itaipu.
Fica claro que o Brasil não pode mais seguir com sua política externa de "simpatia" em relação a países que desejam deixar de pagar o que devem. O governo brasileiro precisa agir com energia. Mas o contencioso deve ser limitado ao bloco chavista, deixando o Brasil livre para cuidar do interesse maior da integração continental.
Um comentário:
E o Brasil ainda vai vender o Super Tucano para o governo equatoriano, que anunciou não precisar de financiamento do BNDES para isso, em mais um ato de atrevimento, de petulância. O certo, se querem os equatorianos dar calote, seria também suspendermos a venda dessas aeronaves ao Equador.
Agora mesmo foi anunciada a venda de 100 mísseis anti-radar para o Paquistão, uma arma muito estratégica, fabricada por meia dúzia de países, que não a vendem a qualquer um, e que, estou certo, em breve deve ser vendida pelo Brasil a vizinhos que nunca a tiveram, perdendo o País um grande poder de dissuasão, além de estarmos colocando nossa própria segurança em risco, ainda que - como alguns dizem - seja muito remota a possibilidade de conflito armado do Brasil com algum vizinho...
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