quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Brasil pode rever empréstimos para vizinhos

Amorim diz que reavaliação será feita se Venezuela, Bolívia e Paraguai seguirem Equador e não pagarem ao BNDES

Deborah Berlinck

 

GENEBRA e BRASÍLIA. O governo brasileiro vai rever sua política de empréstimos para Venezuela, Bolívia e Paraguai - que inclui linhas de créditos em bases concessionais, ou seja, mais baratas - se estes três países seguirem o caminho do Equador. Isto é: se decidirem não pagar suas dívidas com o BNDES, como ameaça o governo equatoriano. Foi o que indicou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O ministro deixou claro que a fonte de crédito em bases facilitadas do Brasil vai secar se se houver calote generalizado. O BNDES emprestou mais de US$5 bilhões a estes quatro países.

- Eu espero que todos esses países tenham muitas outras fontes de crédito e muitas outras fontes de receitas externas para eles continuarem a progredir e se desenvolver?como nós desejamos - disse Amorim, no aeroporto de Genebra, antes de embarcar para o Brasil.

O ministro reagia pela primeira vez à notícia de que Venezuela, Bolívia e Paraguai também vão fazer auditoria nas suas dívidas externas, como fez o Equador. O governo equatoriano ameaça dar calote, alegando irregularidades no contrato de US$243 milhões que levantou com o BNDES para a construção da hidrelétrica San Francisco.

Amorim disse que o Brasil tem trabalhado "arduamente" para a integração do continente e que vários países da região têm se beneficiado de convênios de comércio com o Brasil:

- Acho que, quando eles olham para uma dívida com o Brasil, e não estou tirando o direito deles, não podem nos tratar como uma potência colonial que esteja querendo explorar. Nós seguimos as regras do mercado internacional. Se elas não são boas, eles podem abrir uma discussão.

Inicialmente, Amorim não quis falar sobre o assunto. Mas, depois, foi direto ao ponto:

- Cada país é livre para fazer o que quiser. Faça as auditorias, faça o que tiver de fazer. Nós vamos ter de tirar as conseqüências - disse. - Nós também vamos analisar e vamos ver as conseqüências que isso tem para quem empresta.

Amorim explicou que todo país tem um risco que é constantemente avaliado no mercado internacional. Segundo ele, o Brasil, tem conseguido baixar este risco para a região, concedendo empréstimos mais favoráveis através do BNDES e com garantias do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). O CCR é um instrumento que permite a compensação de pagamentos decorrentes de exportações e importações entre países da região, e pode reduzir os juros de um empréstimo de 12% para 2%, por exemplo. Mas se os empréstimos brasileiros forem questionados, segundo o ministro, não haverá alternativa:

- Queiramos ou não, e independentemente do Brasil, o risco vai aumentar e isso não é uma coisa boa. Isso vai gerar preocupação nossa. Independente de os juros estarem mais altos, temos que perguntar: vale a pena emprestar?

Presidente do Paraguai confirma auditoria da dívida

Mas o ministro, depois, amenizou, ao afirmar:

- Vamos esperar. Essas coisas as vezes são ditas no entusiasmo do momento.

O presidente do Paraguai, Omar Lugo, confirmou ontem que formará uma equipe para avaliar a origem e a legalidade da dívida internacional do país.

- Queremos estudar exaustivamente (a dívida) e acredito que os organismos internacionais estão conscientes disso.

Uma das dívidas contestadas é com a Eletrobrás, de US$19 bilhões. Lugo destacou a falta de avanços nessas negociações.

- Valorizamos a predisposição do presidente do Brasil nas conversas, embora não tenhamos registrado avanços significativos.

Ontem, o senador Arthur Virgílio (AM) apresentou requerimento propondo a convocação de Amorim para discutir o problema na Comissão de Relações Exteriores (CRE).

COLABOROU Adriana Vasconcelos 

 

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