quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Crise mundial: indústria confirma contágio do Brasil

Sabrina Lorenzi, Jornal do Brasil

 

BRASÍLIA - Um mês depois de a crise financeira começar a assombrar o mundo, o número de paralisações voluntárias nas fábricas brasileiras quase dobrou. O resultado foi uma redução de 1,7% da produção entre setembro e outubro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A escassez de crédito desacelerou todas as categorias da indústria. E mais da metade dos segmentos cortaram produção.

Embora o IBGE – e mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega – evite atribuir o resultado da indústria em outubro ao contágio da crise mundial, especialistas ouvidos pelo JB confirmam que o indicador dá os primeiros sinais de que o Brasil começa a sofrer os efeitos da desaceleração global.

– Não sabemos se o que aconteceu em outubro será padrão daqui para frente, porque foi o primeiro mês depois da crise. Foi o mês do susto, de adaptação das empresas ao novo cenário – afirmou a coordenadora da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, Isabella Nunes.

– Os setores que reduziram a produção foram justamente os que vinham crescendo muito.

 

Outubro do susto

A indústria petroquímica foi a que mais se retraiu, com corte de 11,6% entre setembro e outubro. Se o dólar mais caro atrapalha as refinadoras com ajustes nos preços dos insumos, por outro a queda livre da cotação do barril de petróleo tende a neutralizar a alta de custos. Para o IBGE, a principal dificuldade das empresas é o cenário de incertezas quanto à demanda.

Ao todo, 15 dos 27 ramos pesquisados cortaram produção, entre os quais o de refino de petróleo e produção de álcool (-9,0%). O segmento de máquinas e equipamentos que interrompeu seqüência de quatro meses de taxas positivas e recuou 5,4%. Como já era de se esperar, a indústria de veículos automotores (-1,4%) também cortou, com férias coletivas em várias fábricas.

O IBGE apurou que o número de paralisações e folgas aos funcionários da indústria disparou em outubro deste ano em relação aos anos anteriores. Em outubro de 2007, 68 fábricas paralisaram as atividades. No outubro do susto, o número saltou para 118. O IBGE considerou interrupções que afetaram pelo menos 10% da produção.

Na metalurgia, o total de paralisações subiu de dois para 11. São as siderúrgicas pisando no freio por causa do consumo de aço ladeira abaixo, principalmente na China.

Responsável por 7% de toda a produção da indústria, o segmento químico elevou de 11 para 26 o total de paralisações nas fábricas, com folgas aos funcionários. As interrupções na indústria de alimentos cresceram de 20 para 31 com a crise. Na de celulose, de cinco para oito. Nas demais atividades investigadas pelo IBGE, houve 41 paralisações, ante 30 em outubro do ano passado.

– As paralisações foram muito concentradas na indústria de intermediários, como celulose, autopeças, química, refino, mineração e siderurgia – completou.

De acordo com o IBGE, a desvalorização de produtos no mercado internacional por causa da demanda fria atingiu em cheio a produção de insumos para a gricultura, como herbicidas, adubos e fertilizantes.

Por outro lado, 12 ramos da indústria aumentaram a produção entre setembro e outubro, com taxas mornas. Alimentos (0,7%) e outros equipamentos de transportes (2,0%) exerceram as influências positivas mais relevantes, segundo o IBGE.

A redução no ritmo produtivo alcançou todas as categorias de uso. A queda mais acentuada foi observada em bens de consumo duráveis (-4,7%), segmento mais suscetível ao crédito, com influência forte das montadoras. Ao contrário dos carros de passeio, a produção de ônibus e caminhões não foi afetada pela crise. A cadeia automotiva responde por 10% da indústria brasileira.

Na comparação com outubro de 2007, a indústria assinalou expansão de 0,8% – a menor taxa desde dezembro de 2006 (0,3%), mesmo contando com um dia útil a mais em relação a outubro de 2007. De janeiro a outubro, a indústria cresceu 5,8%, apoiada no crescimento de 21 atividades, com veículos (16,0%) liderando a expansão por causa dos recordes de venda antes da crise.

 

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