quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Brasil rechaça tentativa de calote do Paraguai

Inspirados no Equador, que contesta o débito com o BNDES, paraguaios querem renegociar dívida de Itaipu

 

O Brasil se tornou o alvo prioritário de seus vizinhos latino-americanos. Depois da nacionalização das instalações da Petrobras na Bolívia e da tentativa de calote do Equador, agora o Paraguai anuncia a intenção de repassar ao Brasil uma dívida de US$ 19 bilhões.

O passivo, cujo total é de US$ 19,6 bilhões, pertence à usina binacional de Itaipu e deveria ser pago de forma equânime pelos dois países. Contudo, a proposta do novo presidente paraguaio, Fernando Lugo, é de que o governo brasileiro assuma 97% da dívida, percentual correspondente à energia de Itaipu consumida pelo país. Nesse cálculo, o Paraguai seria onerado em apenas US$ 600 milhões.

A mais recente polêmica diplomática vinha sendo tratada com discrição pelo Itamaraty, cujo foco regional está voltado para a crise com o Equador. Em depoimento ontem à Comissão de Relações Exteriores do Senado, o chanceler Celso Amorim tentou minimizar o impacto de uma nova fratura diplomática. Mesmo assim, ressaltou que a reivindicação paraguaia é “irreal” e que o Brasil descarta a possibilidade de aceitar a idéia.

 

Brasil ameaça paralisar financiamento de obras

Na sexta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, participa de uma reunião com dirigentes paraguaios de Itaipu, mas também rechaça, desde já, o perdão da dívida paraguaia. A determinação do governo é tentar não ampliar a tensão, crescente desde que o Brasil assumiu uma postura mais belicosa em relação ao Equador, algo raro na diplomacia da Era Lula. Diante da onda de calotes, o Brasil ameaça com a paralisação do financiamento de obras e projetos de infra-estrutura voltados para a integração regional no continente.

No Palácio do Planalto, há um entendimento de que os novos presidentes latino-americanos assumiram os cargos em condições internas periclitantes, em meio a graves crises econômicas e institucionais. A sensação é de que eles estão tentando resolver os problemas apontando para o suposto “imperialismo” do Brasil na região, um bordão normalmente usado contra os Estados Unidos. Para auxiliares do presidente Lula, há duas esquerdas na América Latina: a mais moderada, liderada por Brasil e Chile, e uma populista, financiada pelo venezuelano Hugo Chávez e que tem como aliados Bolívia, Equador e Paraguai. É diante dessa divisão que o Brasil tenta equilibrar sua diplomacia.

  

Solidariedade dos países da Alba ao Equador preocupa

Lula será o anfitrião, na próxima semana, da reunião de cúpula da União das Nações Sul-americanas (Unasul) e do Mercosul, em Salvador. Além das ameaças de calotes, há outras preocupações que envolvem, por exemplo, a situação dos brasiguaios no Paraguai. O Itamaraty também demonstra angústia com as declarações de solidariedade ao Equador. Ao recorrer a tribunais internacionais para suspender a dívida de US$ 243 milhões com o BNDES, o presidente Rafael Correa recebeu apoio da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) – colegiado que reúne Venezuela, Nicarágua, Cuba, Bolívia, Honduras e Dominica.

– Ser o maior país traz conseqüências. Nossa política externa ou é chamada de imperialista, ou de condescendente. Integração tem suas dores – reconhece um interlocutor do assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

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