quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Festa na Praça dos Três Poderes

'Raposa Serra do Sol é nossa', comemora líder indígena e advogada 

 

BRASÍLIA. Um grupo de aproximadamente 40 índios wapixana, ingaricó e tauarepang, entre outras etnias, comemorou cantando e dançando em círculos, na Praça dos Três Poderes, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável à demarcação da reserva Raposa Serra do Sol em terras contínuas. O julgamento ainda não foi encerrado, mas as chances de reversão do resultado são quase nulas. 

- Agora é hora de comemorar, gente! Foram oito votos a nosso favor. Raposa Serra do Sol é nossa - disse a índia Joênia Carvalho, logo após o fim da sessão. 

Surpresa e exultante, Joênia tentava, com o chamamento, convencer os demais índios de que o resultado, ainda que parcial, era amplamente favorável a eles. Os índios, que até então pareciam em dificuldade para entender o alcance da decisão, saíram às pressas para a Praça dos Três Poderes. Com cantos e danças em círculos, agradeceram aos deuses pela vitória. Joênia é advogada e uma das principais líderes indígenas da Raposa. Coube a ela fazer a defesa da demarcação em terras contínuas na primeira sessão do STF sobre o caso. 

- Não é preciso dizer mais nada, os índios estão ali, comemorando - afirmou Saulo Feitosa, integrante da Conselho Indigenista Missionário (Cimi). 

A dança foi o desfecho de um dia de protesto festivo. Antes do começo do julgamento, os índios, aglomerados em torno do grupo musical Caxiri na Cuia, já entoavam canções sobre a vida nas aldeias. 

- Em terras contínuas, a liberdade é melhor - disse Jesus Peixoto Macuxi, sanfoneiro e líder do Caxiri. 

Com o clima de festa, o forte esquema de segurança montado para proteger os ministros do STF teve pouca utilidade. O número de índios era quatro vezes inferior ao contingente de 150 policiais militares destacados apenas para fazer a segurança externa. 

A trégua só foi interrompida por alguns momentos, quando um grupo de índios foi barrado na entrada do STF, pouco antes do começo da sessão. Segundo o xavante Crisanto Rudzo Tseremey, um dos seguranças disse que sem terno e gravata não poderiam entrar. 

- Fiquei revoltado. Vivemos num estado democrático, mas não respeitam a diversidade dos povos - disse Rudzo. 

A assessoria de imprensa do STF negou que os índios tenham sido proibidos de entrar sem terno e sim porque, temporariamente, faltavam vagas nos salões do STF. O tribunal reservou 20 lugares para os índios - o mesmo número de cadeiras cedidas aos arrozeiros.

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