quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Paquistão se nega a entregar suspeitos

Autoridades pedem paz, mas dizem que se a Índia atacar, estão prontas para a guerra

 

O governo paquistanês se recusa a extraditar para a Índia os suspeitos detidos na segunda-feira dentro da investigação pelos atentados de Mumbai. No lugar disso, argumenta que as julgará em território paquistanês caso se confirmem as suspeitas de suposto envolvimento nos ataques.

– Estas detenções aconteceram dentro de nossa própria investigação – observou o ministro das Relações Exteriores paquistanês, Shah Mehmood Qureshi. – Mesmo se forem comprovadas as acusações contra eles, não os entregaremos à Índia e os julgaremos dentro da lei paquistanesa.

Resultado das tensões acirradas entre o Paquistão e a Índia depois dos atentados do fim do mês passado – em que mais de 170 pessoas morreram – o governo civil do país afirmou querer paz com seu vizinho, mas não descartou entrar em confronto com o vizinho se julgar necessário. Caso a Índia o ataque, fez questão de deixar claro, está pronto para a guerra.

Ontem, a polícia indiana identificou um quinto suspeito dos ataques e divulgou os nomes e fotos dos nove homens armados mortos no confronto. O indiano, reconhecido como Sabauddin, já esteve preso antes. No último domingo, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, voltou atrás na afirmativa americana que isentava o Paquistão de alguma ligação nos ataques e afirmou que "não há duvidas" que os atentados foram planejados no país.

O governo indiano garante que militantes do grupo paquistanês Laskhar-e-Taiba são os responsáveis pela tragédia. O governo de Islamabad nega que os ataques tenham qualquer relação com a inteligência de seu país, mas não descarta que os militantes sejam paquistaneses e chegou a oferecer cooperação à Índia para as investigações.

Em artigo publicado no New York Times, o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari – viúvo da ex-premier assassinada Benazir Bhutto – propôs que o Paquistão e a Índia colaborem na luta antiterrorista. Que "sigamos avançando em nosso processo de paz", pediu Zardari.

"Os atentados eram dirigidos não só contra a Índia, mas também contra o novo governo democrático do Paquistão e contra o processo de paz com a Índia que empreendemos", escreveu o presidente.

Zaradai disse, ainda, que a ofensiva contra o campo de treinamento do Lashkar-e-Taiba representa uma prova do comprometimento de seu governo contra o terrorismo e pediu para que a Índia faça uma "pausa e tome fôlego" antes de culpar o Paquistão pelos ataques contra a cidade de Mumbai.
Confrontos indicam fragilidade e falta de controle paquistanesas

Marsílea Gombata

 

Os recentes ataques na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, além de ameaçarem o estabelecimento das forças da Otan na região, evidenciam a fragilidade interna e a falta de controle no Paquistão.

– O terror cresce e aumenta o debate em torno da conduta do governo civil do país, que tem subestimado a estabilidade e perdido controle sobre importantes áreas tribais e cidades – avalia Richard Bennett, analista em inteligência britânico. – Rotas vitais para o reabastecimento estão vulneráveis e com o crescimento do terrorismo na fronteira, oficiais de Washington e Londres reclamarão a Islamabad sobre a falta de proteção crônica.

O Pentágono minimizou o impacto dos ataques contra depósitos militares da Otan no Paquistão. Analistas, entretanto, têm dúvidas sobre o futuro das tropas estrangeiras. No total, 80% do abastecimento das forças no Afeganistão provêm do Paquistão – principalmente combustível – e a entrega é feita por Khyber, que une ambos países.

O alto nível de insurgência poderia ser, em outros tempos, suficiente para motivar George Bush a ordenar ofensiva no país. A questão atual, no entanto, é sobre qual posição Barack Obama assumirá.

– Não vejo Obama articulando uma guerra contra o Paquistão – prevê Kirk Buckman, da Universidade Franklin Pierce, em New Hampshire. – Se alguma coisa deve ser feita no Paquistão, os EUA se engajarão apenas em ataques a elementos que vivem na fronteira. Os EUA costumam ser vistos como quem apoiou o regime corrupto de Pervez Mussharraf. Por isso, Obama começará a se distanciar para ser mais neutro entre Índia e Paquistão.

Na semana passada, o relatório do Congresso americano chegou a dizer que a maior ameaça de ataques terroristas aos EUA vem do Paquistão. No documento, o país foi citado repetidamente devido aos grupos locais, as armas nucleares e a recorrente instabilidade política.

– Potencialmente, o Paquistão é o mais perigoso dos Estados islâmicos – avalia Bennett. – População militante cada vez maior, serviço de inteligência agressivo, temíveis forças militares, armas nucleares e possível capacidade para combate químico. Tudo correndo o risco de cair nas mãos de grupos islâmicos extremistas ligados à Al Qaeda.

 

 

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