A Equador, Brasil aplicou sanções
Denise Chrispim Marin, BRASÍLIA
A crise Equador-Brasil poderia ter sido mais uma tensão contornada pelo Itamaraty com uma nova dose de cooperação bilateral. Mas não foi assim. A insistência do governo do equatoriano Rafael Correa em alimentar a tensão ao longo dos dois últimos meses deixou claro o limite da generosidade da política externa brasileira.
O caso serviu também para mostrar a existência de uma gradação entre os vizinhos: conforme o nível de integração e relevância econômica para o Brasil, o país recebe discretas advertências ou retaliações mais severas.
O Equador recebeu duas sanções em um mês. Ao expulsar a construtora Norberto Odebrecht e a companhia Furnas, teve como resposta do governo Luiz Inácio Lula da Silva a suspensão de uma missão técnica para o projeto de ligação multimodal entre Manta, no litoral equatoriano, e Belém (PA).
Há dez dias, Correa anunciou um pedido de arbitragem internacional para sua dívida com o BNDES. O Itamaraty chamou para consulta o embaixador em Quito - uma advertência de que as relações bilaterais estão se deteriorando - e suspendeu a concessão de novos financiamentos oficiais ao país.
Desde sua posse, em 2003, Lula dá aval à política de generosidade preconizada pelo Itamaraty e por seus assessores diretos. Em 2004, a Argentina limitou o ingresso de eletrodomésticos e de televisores brasileiros. Há um ano, a Casa Rosada vetou a operação de compra da Esso pela Petrobrás. Em cada episódio, o governo Lula evitou alimentar o conflito e buscou uma solução técnica, mesmo que acarretasse prejuízo a setores nacionais.
A Argentina tem um peso nas relações com o Brasil que nenhum país sul-americano alcança e desfruta da mais ampla tolerância do governo Lula. O comércio bilateral atingiu US$ 26,78 bilhões de janeiro a outubro e os investimentos brasileiros no país chegaram a US$ 10,7 bilhões nos últimos quatro anos. Os investimentos argentinos no Brasil são igualmente relevantes.
O comércio Brasil-Equador somou US$ 745 milhões nos dez primeiros meses deste ano, dos quais US$ 708 milhões corresponderam a exportações brasileiras. O Equador tornou-se um mercado interessante para fornecedores de produtos industrializados e para as construtoras. Mas as recentes decisões de Correa trouxeram um risco tão alto que deverá inviabilizar novas operações. A reação brasileira deixou claro que, na gradação da tolerância de Brasília, o Equador está com a lanterna.
A Bolívia, por menor e por mais arisca que seja, está bem próxima do tratamento recebido pela Argentina. Em maio de 2006, enquanto o governo Lula negociava com La Paz o decreto de nacionalização do petróleo, o presidente Evo Morales anunciou a edição da lei e mandou invadir as refinarias da Petrobrás. Surpreendido, Lula preferiu contemporizar. Uma operação do Exército na fronteira foi suspensa, para não gerar conclusões equivocadas na Bolívia. Vinte dias depois, o chanceler Celso Amorim foi a La Paz para anunciar a disposição de cooperação do País. Nove meses mais tarde, o Brasil aceitou o aumento do preço do gás.
A principal razão de tamanha compreensão do governo Lula estava no envio diário de 31 milhões de metros cúbicos de gás natural pela Bolívia ao Brasil, por meio de um gasoduto construído em boa parte com recursos da Petrobrás.
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