sexta-feira, 20 de junho de 2008

Índios de Roraima vão à Europa para reivindicar direitos sobre terras

da Efe, em Madri
Líderes indígenas da região da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, iniciaram nesta quarta-feira (18) uma viagem européia para reivindicar a manutenção dos direitos adquiridos sobre suas terras. A viagem começou na capital da Espanha, Madri.
Jacir José de Souza, índio macuxi da aldeia Lilás, e a professora Pierlângela Nascimento da Cunha, da etnia wapixana da comunidade de Barata, pediram o apoio dos governos e sociedades européias para a decisão que a Justiça brasileira tomará em breve sobre seu território.
O STF (Supremo Tribunal Federal) deve se pronunciar nos próximos meses sobre o recurso apresentado por proprietários, parlamentares e o próprio governo de Roraima contra o decreto de homologação da Raposa/Serra do Sol assinado em 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O decreto presidencial confirmava a propriedade dos indígenas sobre o território de 1,6 milhão de hectares (cerca de 7% da área do Estado de Roraima), na fronteira com a Venezuela e a Guiana, e fixava o prazo de um ano para a saída dos "ocupantes não indígenas".
Além dos macuxi e wapixana, na reserva Raposa/Serra do Sol vivem os taurepang, patamona e ingarikó, divididos em 194 comunidades, com cerca de 19 mil habitantes.
"Viemos à Europa para mostrar a situação, para lembrar que a lei deve ser cumprida, que não se pode reduzir a área entregue a nossos povos e que o STF deve ter consciência de nosso sofrimento", disse Souza.

Arroz
Segundo os índios, desde a década de 90 grandes empresários agrícolas do sul do país pressionam pela ocupação das terras da reserva indígena para que sejam usadas para o plantio de arroz.
Seis famílias controlam o cultivo do arroz para a exportação, explorando a terra com graves danos ambientais, e ainda têm o apoio da classe política e econômica local e das forças de segurança, além de usarem os índios como mão-de-obra escrava, afirmaram.
Nas últimas três décadas, 21 índios foram assassinados, mas ninguém foi condenado.
"Não foi fácil chegar aqui vindo de tão longe, e se fizemos o esforço de viajar à Europa é para transmitir a mensagem de que estes invasores, os produtores de arroz, estão no coração de nossas terras e isto nos faz sofrer", disse Cunha.
"Não nos tirem nossa terra. Há vários anos, todo o Brasil era dos índios. Que o pouco que nos restou não nos seja roubado, pois para nós ela é o mais importante", afirmou a representante do wapixana, que pediu às sociedades que não se preocupem só com as florestas, mas também com seus habitantes.
Os índios contam com o apoio das ONGs Mãos Unidas, Cáritas, Survival e Entreculturas, que iniciaram a campanha "Anna Pata, Anna Yan" (Nossa Terra, Nossa Mãe) para divulgar a causa na Europa.

Encontro
Após falarem à imprensa, Souza e Cunha --acompanhados do antropólogo espanhol Luis Ventura, que viveu na Raposa/Serra do Sol entre 2002 e 2006-- encontraram-se com a vice-presidente de governo espanhol, María Teresa Fernández de la Vega.
Amanhã, os índios e o antropólogo se reunirão com o ministro de Assuntos Exteriores e Cooperação da Espanha, Miguel Ángel Moratinos. Também visitarão o Congresso dos Deputados, antes de seguirem sua viagem pela Europa.
Os líderes indígenas devem passar por Reino Unido, Bélgica, França, Itália e Portugal.

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