Legalmente, 80% das árvores estão à mercê das serras elétricas
Osmar Freitas Jr.
Nova York
Osmar Freitas Jr.
Nova York
A internacionalização das florestas americanas adquire caráter de urgência – 80% de suas árvores estão legalmente à mercê das serras elétricas. A exploração industrial da madeira vem derrubando cerca de 2% da mata anualmente. O professor Ben Van Pluijm, da Universidade de Michigan, do curso de Mudanças Climáticas (Global Change 2), diz que se este processo não for revertido, haverá desflorestamento completo em 70 anos.
As estatísticas apontam que o corte está aumentando o ritmo. A área em questão, com 522.300 km², é considerada parte do maior ecossistema do planeta. Chama-se Floresta Boreal do Alaska. Ninguém, no entanto, fala em dar à Organização das Nações Unidas – ou a qualquer outra instituição internacional – a soberania da região.
A julgar pelo passado daqueles que deveriam cuidar desta mata – uma das três principais florestas primárias do mundo, juntamente com a Amazônia e a Boreal da Rússia – o futuro é negro. Sem sombra de dúvidas, ou de árvores. Entre os anos de 1600 e 1920, 90% das matas virgens que cobriam os 48 estados continentais americanos foram dizimadas (veja o quadro na página seguinte). Poda equivalente a 1 milhão de km². A política de terra arrasada chegou ao terceiro milênio munida de machados, serras elétricas e torres de extração de petróleo.
História
Nos EUA, desde 1980, cerca de 40.500 km² de matas foram convertidos em subúrbios de alta concentração demográfica. Na região sul do país, nos próximos 40 anos, nada menos do que 125 mil km² vão desaparecer sob o asfalto e calçamento de empreendimentos imobiliários. Será a morte da última geração de reflorestamento, que, diz-se, replantou 2/3 de tudo o que foi cortado desde a chegada dos colonizadores.
– O que não se leva em conta na suposta recuperação da mata é o tipo de floresta reerguida – diz o professor Dr. Bruce Raislback, da Universidade da Georgia.
Raislback, como a maioria dos cientistas, diz que é preciso olhar a árvore para entender a floresta (numa inversão do provérbio Zen).
– Uma floresta de eucaliptos é uma plantação de fazenda como, digamos, a de soja. Não há biodiversidade e, pior, o que foi plantado já está destinado ao machado. O que se fez em muitas áreas ditas reflorestadas nos EUA foi o plantio de pinho, para uso na indústria da construção. Onde havia castanheiras, carvalhos e outras espécies, hoje se tem matéria prima para casas. Isso não é reflorestamento – diz o Dr. Eliot Spalder, pesquisador no Jardim Botânico do Bronx, em Nova York.
Cristovão Colombo descobriu a América à bordo de frutos do desmatamento europeu. A Era dos Descobrimentos provocou corrida às florestas do Velho Mundo, para aproveitamento de madeira na construção de navios. Foi o maior corte das matas no planeta desde a Revolução Neolítica (com a invenção da agricultura) na zona do Levante. As múltiplas guerras entre Grã-Bretanha e Espanha – envolvendo a França, Portugal, Holanda e outros países da atual União Européia - também impuseram o reforço das armadas navais destes países. E fizeram os machados trabalharem a toque de caixa. Hoje, as florestas européias estão reduzidas a 3% do que eram originalmente.
Os puritanos ingleses que chegaram no famoso navio Mayflower, dando pontapé inicial na tomada da América pelos ingleses, também vieram a bordo de pequeninos restos das florestas européias. Trataram logo de pavimentar – em sentido figurado e ao pé da letra – as terras do Novo Mundo. Em pouco mais de 300 anos, pelaram uma zona com dimensões continentais. Até 1600, os europeus desconheciam o arado com lâmina em forma de V – que os chineses utilizavam há 2 mil anos. Arava-se a terra com uma lâmina de metal, mais ou menos no formato de uma pá, o que requeria os esforços pesados de seis bois e um homem adulto. Era muito difícil o cultivo de grandes extensões. Com a chegada da novidade tecnológica, era possível fazer o plantio de áreas muito maiores com apenas um ou dois bois e um condutor minguado. Esta revolução de modus operandi – passada imediatamente à América do Norte – gerou fartura e riquezas, que por sua vez bancaram o Iluminismo.
O mesmo Iluminismo que inspirou os "Pais da Pátria" na independência americana, além do pensador Jean-Jacques Rousseau, desaguou em vertente filosófica do ativismo ecológico atual. Movimento construído sob espólios de matas derrubadas em dois continentes.
A explicação de porque não fizeram isso é meio óbvia, e é dada pelo: "Caso fizéssemos o reflorestamento desta área, os EUA não seriam mais a maior potência do mundo e boa parte da população sucumbiria à fome, miséria e falta de moradia". Quanto à idéia de internacionalizar a Floresta Boreal do Alaska, o professor de Economia Ambiental Richard Luger, da Universidade do Arizona diz:
– Só um louco para propor isso. Os EUA mandariam de volta à Idade da Pedra quem tentasse – diz.
Dá para acreditar, é só ver o que restou das terras indígenas que resistiram aos colonizadores.
As estatísticas apontam que o corte está aumentando o ritmo. A área em questão, com 522.300 km², é considerada parte do maior ecossistema do planeta. Chama-se Floresta Boreal do Alaska. Ninguém, no entanto, fala em dar à Organização das Nações Unidas – ou a qualquer outra instituição internacional – a soberania da região.
A julgar pelo passado daqueles que deveriam cuidar desta mata – uma das três principais florestas primárias do mundo, juntamente com a Amazônia e a Boreal da Rússia – o futuro é negro. Sem sombra de dúvidas, ou de árvores. Entre os anos de 1600 e 1920, 90% das matas virgens que cobriam os 48 estados continentais americanos foram dizimadas (veja o quadro na página seguinte). Poda equivalente a 1 milhão de km². A política de terra arrasada chegou ao terceiro milênio munida de machados, serras elétricas e torres de extração de petróleo.
História
Nos EUA, desde 1980, cerca de 40.500 km² de matas foram convertidos em subúrbios de alta concentração demográfica. Na região sul do país, nos próximos 40 anos, nada menos do que 125 mil km² vão desaparecer sob o asfalto e calçamento de empreendimentos imobiliários. Será a morte da última geração de reflorestamento, que, diz-se, replantou 2/3 de tudo o que foi cortado desde a chegada dos colonizadores.
– O que não se leva em conta na suposta recuperação da mata é o tipo de floresta reerguida – diz o professor Dr. Bruce Raislback, da Universidade da Georgia.
Raislback, como a maioria dos cientistas, diz que é preciso olhar a árvore para entender a floresta (numa inversão do provérbio Zen).
– Uma floresta de eucaliptos é uma plantação de fazenda como, digamos, a de soja. Não há biodiversidade e, pior, o que foi plantado já está destinado ao machado. O que se fez em muitas áreas ditas reflorestadas nos EUA foi o plantio de pinho, para uso na indústria da construção. Onde havia castanheiras, carvalhos e outras espécies, hoje se tem matéria prima para casas. Isso não é reflorestamento – diz o Dr. Eliot Spalder, pesquisador no Jardim Botânico do Bronx, em Nova York.
Cristovão Colombo descobriu a América à bordo de frutos do desmatamento europeu. A Era dos Descobrimentos provocou corrida às florestas do Velho Mundo, para aproveitamento de madeira na construção de navios. Foi o maior corte das matas no planeta desde a Revolução Neolítica (com a invenção da agricultura) na zona do Levante. As múltiplas guerras entre Grã-Bretanha e Espanha – envolvendo a França, Portugal, Holanda e outros países da atual União Européia - também impuseram o reforço das armadas navais destes países. E fizeram os machados trabalharem a toque de caixa. Hoje, as florestas européias estão reduzidas a 3% do que eram originalmente.
Os puritanos ingleses que chegaram no famoso navio Mayflower, dando pontapé inicial na tomada da América pelos ingleses, também vieram a bordo de pequeninos restos das florestas européias. Trataram logo de pavimentar – em sentido figurado e ao pé da letra – as terras do Novo Mundo. Em pouco mais de 300 anos, pelaram uma zona com dimensões continentais. Até 1600, os europeus desconheciam o arado com lâmina em forma de V – que os chineses utilizavam há 2 mil anos. Arava-se a terra com uma lâmina de metal, mais ou menos no formato de uma pá, o que requeria os esforços pesados de seis bois e um homem adulto. Era muito difícil o cultivo de grandes extensões. Com a chegada da novidade tecnológica, era possível fazer o plantio de áreas muito maiores com apenas um ou dois bois e um condutor minguado. Esta revolução de modus operandi – passada imediatamente à América do Norte – gerou fartura e riquezas, que por sua vez bancaram o Iluminismo.
O mesmo Iluminismo que inspirou os "Pais da Pátria" na independência americana, além do pensador Jean-Jacques Rousseau, desaguou em vertente filosófica do ativismo ecológico atual. Movimento construído sob espólios de matas derrubadas em dois continentes.
A explicação de porque não fizeram isso é meio óbvia, e é dada pelo: "Caso fizéssemos o reflorestamento desta área, os EUA não seriam mais a maior potência do mundo e boa parte da população sucumbiria à fome, miséria e falta de moradia". Quanto à idéia de internacionalizar a Floresta Boreal do Alaska, o professor de Economia Ambiental Richard Luger, da Universidade do Arizona diz:
– Só um louco para propor isso. Os EUA mandariam de volta à Idade da Pedra quem tentasse – diz.
Dá para acreditar, é só ver o que restou das terras indígenas que resistiram aos colonizadores.
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