terça-feira, 22 de julho de 2008

A Amazônia vai à SBPC

Ao organizar o debate “Amazônia: soberania e desenvolvimento sustentado”, no âmbito da reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acaba de ser realizada em Campinas, São Paulo, a Fundação Mauricio Grabois (FMG) deu prosseguimento ao seu esforço recorrente de pautar grandes temas nacionais.
É um esforço digno de registro. A FMG já tratou, dentre outros temas, da atualidade do socialismo científico, do aquecimento global e agora do tema que sempre esteve na ordem do dia: a Amazônia.

A mesa contou com a presença de Lúcia Gaudêncio (ANP), do Professor Enio Candotti (SBPC) e com a nossa modesta contribuição. Cada um dos expositores tratou de dar ênfase ao tema de sua abordagem para uma seleta platéia de mais de uma centena de pessoas no auditório da Faculdade de Educação.

De nossa parte procuramos demonstrar que a questão essencial é a reafirmação da soberania nacional sobre a Amazônia, algo cada vez questionado nos fóruns internacionais e na ofensiva do imperialismo.

Destacamos ainda que não é possível desenvolvimento sem sustentabilidade e nem sustentabilidade sem desenvolvimento, de onde se conclui que os extraordinários recursos naturais da Amazônia podem e devem ser racionalmente utilizados para se criar alternativas econômicas aos 22 milhões de habitantes dessa região.

O questionamento da soberania nacional sobre a Amazônia tem sido a essência da tática do imperialismo. Essa tática já recorreu a razões militares, religiosas, científicas, econômicas e presentemente recorre à teoria do bloqueio, com ênfase na questão ambiental.

Suas investidas mais recentes remontam ao período da Cabanagem, quando os ingleses propuseram ao governador cabano Eduardo Angelin que separasse a Amazônia do Brasil em troca de apoio militar, político e econômico. Fracassada essa investida, os americanos organizaram o Bolivian Syndicate, cujo objetivo era arrendar da Bolívia o hoje estado do Acre. A revolução liderada por Plácido de Castro impediu mais essa investida. A tese o instituto da Hiléia - organização supranacional para estudar a gerir a Amazônia - passou então a ser a palavra de ordem. Só não prosperou porque o governo de Getulio Vargas criou o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) para responder aos questionamentos científicos. Depois de dezenas de expedientes parcialmente fracassados a questão ambiental assume preponderância. O argumento central é que a Amazônia é patrimônio da humanidade e, portanto, de uso restrito aos brasileiros, na medida em que seus recursos naturais são patrimônio coletivo, de toda a humanidade.

O que explica, portanto, a resistência em se usar de forma racional e sustentada as riquezas naturais da Amazônia para gerar renda e trabalho ao seu povo e a região não é, necessariamente, ausência de conhecimento científico ou tecnológico para viabilizar tal intento. Há razoável conhecimento acumulado sobre essas potencialidades e possibilidades, embora sempre seja desejável se ter mais e mais conhecimento científico sobre a região. O que impede de se fazer manejo florestal seletivo, aproveitar o potencial hidroenergético, a industrialização em escala de seus recursos faunístico e mesmo da utilização de sua biodiversidade para fins farmacológicos não é, repito, carência de conhecimento, mas sim determinação geopolítica de não fazer.

E isso é apenas uma pequena amostra do pesado jogo geopolítico que sempre alimentou a polêmica em torno da Amazônia, onde só os fortes sobrevivem.

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