Equipe de Obama sinaliza rever política do etanol
A campanha do senador Barack Obama emitiu nos últimos meses sinais discretos de que as políticas adotadas nos Estados Unidos para incentivar a produção doméstica de etanol poderão ser revistas se ele chegar à Casa Branca, idéia que foi tratada como heresia pelo candidato e seus aliados durante a maior parte desta corrida presidencial.
A mudança de tom reflete uma preocupação crescente com o impacto que a expansão da produção de etanol americana teve sobre os preços dos alimentos, dúvidas que grupos ambientalistas têm sobre a eficácia das políticas adotadas pelos EUA até agora e a percepção de que o governo deveria investir mais em outras fontes alternativas de energia.
Numa entrevista para um programa de rádio patrocinado pela indústria de etanol no início do mês, uma das principais assessoras de Obama nessa área, Heather Zichal, afirmou que os subsídios que apóiam as usinas americanas "precisarão ser considerados no futuro" e disse que, para Obama, "escolher vencedores não é boa política pública".
Os EUA produzirão neste ano 34 bilhões de litros de etanol. Suas usinas usam milho para produzir o combustível, que no Brasil é feito de cana-de-açúcar. A demanda da indústria fez os preços do milho dispararem nos últimos anos, gerando pressões sobre os preços dos alimentos no mundo inteiro. As usinas de etanol consumirão um terço da produção de milho dos EUA neste ano.
Na entrevista, Heather reconheceu que isso cria limites para a continuidade das políticas atuais e deixou claro que a prioridade de Obama será o desenvolvimento de combustíveis mais avançados, como o etanol celulósico, que pode ser feito de grama, lascas de madeira e outros materiais vegetais, mas que ainda não é viável comercialmente.
Em junho, numa teleconferência em que discutiu as propostas de Obama para a área energética, outro assessor, Jason Grumet, insistiu no mesmo ponto. "O etanol feito de milho [...] não é a resposta", afirmou. "A verdadeira resposta está em deixar o milho para trás rapidamente e partir para a segunda geração de biocombustíveis avançados."
Os subsídios à produção doméstica de etanol deverão custar US$ 11 bilhões ao governo neste ano, estima a consultoria Earth Track. Críticos das políticas americanas acreditam que seria mais sensato para os EUA eliminar esses incentivos e derrubar as barreiras comerciais que hoje protegem as usinas nacionais e encarecem o etanol importado do Brasil, que é muito mais competitivo que os EUA nessa área.
O senador republicano John McCain, adversário de Obama na corrida presidencial, defendeu com veemência durante a campanha o fim dos subsídios ao etanol. Políticos de Estados que consomem muita gasolina mas não produzem etanol têm feito pressões semelhantes. Mas o setor conta com enorme apoio político em Washington, por causa de sua importância para a economia da área rural do país.
No início da campanha eleitoral, Obama costumava justificar seu apoio aos subsídios pelo fato de representar no Senado o Estado de Illinois, um grande produtor de milho e de etanol. Mas a explosão dos preços dos alimentos, no início deste ano, o fez ajustar o discurso. "Se precisarmos mudar nossa política para que as pessoas tenham o que comer, esse será o passo que daremos", disse em maio, numa entrevista à rede de televisão NBC.
Nada disso significa que Obama irá abandonar a indústria doméstica ou abrir o mercado americano para o combustível produzido no Brasil, se for eleito presidente na próxima semana. A legislação em vigor garante a manutenção das tarifas que encarecem o álcool brasileiro até o fim de 2010, e o fortalecimento da indústria doméstica continuará prioritário para os EUA.
Mas a evolução da posição de Obama e de sua equipe nessa discussão indica que eles podem rever seus planos no futuro, se atrasos no desenvolvimento de novos tipos de combustível tornarem difícil o cumprimento das metas fixadas pela legislação atual, que prevê o aumento do consumo americano para 57 bilhões de litros de etanol de milho e 80 bilhões de litros de outros biocombustíveis em 2022.
"A equipe de Obama tem consciência dos limites que a política americana de biocombustíveis enfrenta, e ele tem ouvido com atenção pessoas que defendem a redução do protecionismo dos EUA nessa área", afirmou o representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) nos EUA, Joel Velasco.
A expansão da produção americana nos últimos anos diminuiu bastante as vendas de etanol do Brasil para os EUA. Até agosto deste ano, o país exportou 1,2 bilhão de litros, incluindo vendas para países do Caribe que têm acesso preferencial ao mercado americano e processam boa parte do combustível brasileiro. Em 2006, quando a maioria das usinas dos EUA ainda estava em construção, o Brasil exportou 2,2 bilhões de litros.
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