Líder paraguaio estaria de mãos atadas e não pode contornar ameaças de expulsão, avaliam diplomatas
Denise Chrispim Marin, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O Itamaraty avalia que o presidente Fernando Lugo, do Paraguai, está de mãos atadas e não tem como contornar as ameaças dos movimentos camponeses para tentar expulsar do país os agricultores brasileiros. Os diplomatas calculam, também, que uma possível onda de violência nos Departamentos de San Pedro e do Alto Paraná resultará na morte de cidadãos brasileiros. Para diplomatas que acompanham a situação no Paraguai, o presidente Lugo enfrenta um delicado e grave conflito político interno neste início de mandato.
A preservação das atuais bases da relação bilateral ou a sua decomposição em uma crise diplomática serão resultados diretos de sua capacidade de dissipar a situação interna. Nos cálculos do Itamaraty, cerca de 200 mil brasileiros estão sem nenhuma condição de se defender, em caso de invasões e de outros atos de violência que possam ser desencadeados pelos movimentos de camponeses sem-terra do Paraguai.
Os brasileiros são proprietários de minifúndios e de trabalhadores de fazendas de soja, muitos dos quais se instalaram no Paraguai há quase 30 anos e têm filhos nascidos no país - reconhecidos como cidadãos do Brasil. Os poucos latifundiários brasileiros, ainda mais ameaçados, podem acirrar a violência com a reação de grupos armados.
O contingente brasileiro na zona rural é responsável pela quase totalidade da produção de soja do país, que alcançará cerca de 6,8 milhões de toneladas na safra 2008-2009. Os volumes cultivados tornaram o Paraguai o quarto maior exportador de soja do mundo. A geração de energia elétrica em Itaipu e sua exportação ao Brasil e a produção e embarques de soja são as principais atividades econômicas formais do Paraguai. Na avaliação do Itamaraty, a invasão de fazendas trará, inevitavelmente, repercussão negativa na economia do país, além de provocar a suspensão de planos de investimentos de empresas brasileiras no Paraguai.
Declaração vazia
Pelo noticiário, o Itamaraty recebeu ontem uma reação de Assunção à sua manifestação de preocupação com a possível onda de violência contra brasileiros residentes no Paraguai. À imprensa, o ministro paraguaio do Interior, Rafael Filizzola, afirmou que o governo Lugo "tem o compromisso de fazer a reforma agrária", mas "não admitirá assentamentos e ameaças de nenhum tipo", segundo a agência de notícias Efe. Apesar de "simpática", a declaração de Filizzola foi considerada vazia pela diplomacia brasileira, por conta da impossibilidade de mobilização militar do Paraguai contra ações mais radicais dos sem-terra locais.
Sustentado politicamente pelo Partido Liberal, que defende o respeito à propriedade privada, Lugo se vê desafiado por segmentos mais radicais que respaldou quando conduzia a Diocese de San Pedro e de quem recebeu apoio em sua campanha à Presidência. Também está diante de um discurso mais radical de um velho aliado, o governador do Departamento de San Pedro, José Ledesma, que defende a expulsão dos brasileiros em programas de rádio e que, em maio passado, declarou que seria "implacável" nessa questão.
Responder às ameaças dos movimentos de camponeses sem-terra com a presença mais ostensiva de policiais e/ou de militares seria uma equação difícil para Lugo adotar, mesmo sob justificativas legais, por causa dos pesados custos políticos. Trata-se de um dilema que permeou os primeiros anos de governo Luiz Inácio Lula da Silva, que conseguiu domar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) à custa da liberação de recursos do Orçamento da União que financiaram tanto os assentamentos como os projetos políticos das lideranças dos sem-terra.
Denise Chrispim Marin, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O Itamaraty avalia que o presidente Fernando Lugo, do Paraguai, está de mãos atadas e não tem como contornar as ameaças dos movimentos camponeses para tentar expulsar do país os agricultores brasileiros. Os diplomatas calculam, também, que uma possível onda de violência nos Departamentos de San Pedro e do Alto Paraná resultará na morte de cidadãos brasileiros. Para diplomatas que acompanham a situação no Paraguai, o presidente Lugo enfrenta um delicado e grave conflito político interno neste início de mandato.
A preservação das atuais bases da relação bilateral ou a sua decomposição em uma crise diplomática serão resultados diretos de sua capacidade de dissipar a situação interna. Nos cálculos do Itamaraty, cerca de 200 mil brasileiros estão sem nenhuma condição de se defender, em caso de invasões e de outros atos de violência que possam ser desencadeados pelos movimentos de camponeses sem-terra do Paraguai.
Os brasileiros são proprietários de minifúndios e de trabalhadores de fazendas de soja, muitos dos quais se instalaram no Paraguai há quase 30 anos e têm filhos nascidos no país - reconhecidos como cidadãos do Brasil. Os poucos latifundiários brasileiros, ainda mais ameaçados, podem acirrar a violência com a reação de grupos armados.
O contingente brasileiro na zona rural é responsável pela quase totalidade da produção de soja do país, que alcançará cerca de 6,8 milhões de toneladas na safra 2008-2009. Os volumes cultivados tornaram o Paraguai o quarto maior exportador de soja do mundo. A geração de energia elétrica em Itaipu e sua exportação ao Brasil e a produção e embarques de soja são as principais atividades econômicas formais do Paraguai. Na avaliação do Itamaraty, a invasão de fazendas trará, inevitavelmente, repercussão negativa na economia do país, além de provocar a suspensão de planos de investimentos de empresas brasileiras no Paraguai.
Declaração vazia
Pelo noticiário, o Itamaraty recebeu ontem uma reação de Assunção à sua manifestação de preocupação com a possível onda de violência contra brasileiros residentes no Paraguai. À imprensa, o ministro paraguaio do Interior, Rafael Filizzola, afirmou que o governo Lugo "tem o compromisso de fazer a reforma agrária", mas "não admitirá assentamentos e ameaças de nenhum tipo", segundo a agência de notícias Efe. Apesar de "simpática", a declaração de Filizzola foi considerada vazia pela diplomacia brasileira, por conta da impossibilidade de mobilização militar do Paraguai contra ações mais radicais dos sem-terra locais.
Sustentado politicamente pelo Partido Liberal, que defende o respeito à propriedade privada, Lugo se vê desafiado por segmentos mais radicais que respaldou quando conduzia a Diocese de San Pedro e de quem recebeu apoio em sua campanha à Presidência. Também está diante de um discurso mais radical de um velho aliado, o governador do Departamento de San Pedro, José Ledesma, que defende a expulsão dos brasileiros em programas de rádio e que, em maio passado, declarou que seria "implacável" nessa questão.
Responder às ameaças dos movimentos de camponeses sem-terra com a presença mais ostensiva de policiais e/ou de militares seria uma equação difícil para Lugo adotar, mesmo sob justificativas legais, por causa dos pesados custos políticos. Trata-se de um dilema que permeou os primeiros anos de governo Luiz Inácio Lula da Silva, que conseguiu domar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) à custa da liberação de recursos do Orçamento da União que financiaram tanto os assentamentos como os projetos políticos das lideranças dos sem-terra.
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