Presidente faz a segunda visita à ilha neste ano e vai assinar acordo sobre prospecção de petróleo. No encontro com o colega Raúl Castro, reforçará o convite para que venha à cúpula de dezembro em Salvador
Viviane Vaz
Da equipe do Correio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem a Cuba para sua segunda visita neste ano, levando na mala um acordo de impacto sobre petróleo — a assinatura está prevista para hoje. Do aeroportom Lula se dirigiu ao Palácio da Revolução, em Havana, para um encontro oficial com o colega Raúl Castro, seguido de jantar. A viagem tem teor eminentemente político, que será reforçado por duas medidas práticas: a abertura de um escritório da Agência Brasileira de Promoção das Exportações (Apex ) na capital cubana, para atrair investidores brasileiros, e a assinatura de um acordo entre a Petrobras e a estatal Cupet, para prospecção compartilhada de petróleo.
É a volta da Petrobras ao país, 10 anos depois de ter usado sua experiência em águas profundas para procurar petróleo na costa norte de Cuba. O presidente da empresa brasileira na época, Joel Renno, assinou contrato para explorar o bloco 50, situado 300km leste de Havana. Entre 1998 e 2001, a empresa investiu cerca de US$ 16 milhões para atividades de prospecção em águas cubanas — sem sucesso. As descobertas comerciais só apareceram em 2004, quando a espanhola Repsol-YPF achou petróleo no Golfo do México. Agora, a Petrobras se soma às seis empresas multinacionais que já operam em Cuba: Repsol-YPF, Norsk Hidro (Noruega), ONGC Videsh Ltd (Índia), PDVSA (Venezuela), Petróleos Vietnam e Petronas (Malásia). A zona econômica, de 112km², está dividida em 59 blocos.
O principal parceiro comercial de Cuba hoje é a Venezuela, com quem a ilha mantém a joint-venture PDV-Cupet. O Brasil tentará ocupar o primeiro lugar nos investimentos petrolíferos. Segundo diretores da Cupet, a entrada da Petrobras interessa muito ao país, pois é a empresa que possui atualmente a melhor tecnologia para perfurar no mar e fazer com que o negócio se torne rentável. Segundo a petroleira cubana, suas reservas poderiam chegar a 20 bilhões de barris, volume que, caso confirmado, levaria o país a se tornar exportador de petróleo.
Já a fábrica de lubrificantes da Petrobras em Cuba será construída em parceria com a PDVSA e a Cupet. A idéia é que a produção seja para o consumo interno e para exportação aos vizinhos caribenhos. O presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, explicou que a construção da fábrica dependerá de mudanças na legislação cubana, que exige um mínimo de 50% de participação cubana da composição societária. Para entrar no negócio, a Petrobras e a PDVSA querem controlar, cada uma, um terço do empreendimento.
Embargo
Lula e o colega venezuelano, Hugo Chávez, estão empenhados em tirar o regime de Fidel Castro do isolamento imposto pelo governo americano: com a tecnologia na área de petróleo, podem ajudar na recuperação da economia cubana. Já os Estados Unidos relutam em dar fim ao embargo econômico imposto a Cuba em 1962. Na última quarta-feira, a Assembléia-Geral das Nações Unidas aprovou quase por unanimidade o fim da sanção — de 192 países, apenas os EUA, Israel e Palau se manifestaram contra. Empresários americanos já demonstraram sua insatisfação ao governo do presidente George W. Bush, pois estão ficando para trás na exploração de petróleo no Golfo do México.
Analistas consideram que a Petrobras poderia se tornar uma ponte para o petróleo cubano nos Estados Unidos. “Alguns países amigos dos EUA já se adiantaram. A Espanha começou um diálogo sobre direitos humanos em Cuba. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que recentemente ofereceu a Cuba uma linha de crédito de US$ 1 bilhão, dá à ilha uma alternativa possível à sua dependência do presidente venezuelano, Hugo Chávez”, disse à BBC a pesquisadora Anya Landau French, do Lexington Institute.
Hoje pela manhã, Lula visitará com autoridades da Defesa Civil os locais afetados pelos furacões Ike e Gustav. Aproveitará também para reforçar o convite a Raúl Castro para participar da 1ª Cúpula da América Latina e Caribe sobre Integração e Desenvolvimento, que será realizada em Salvador (BA), em 16 e 17 de dezembro.
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