Exportação do Brasil para América do Sul cairá 15,9% em 2009, US$6,3 bi a menos
Eliane Oliveira
Pelo menos 60% das exportações brasileiras não dependem dos Estados Unidos e da União Européia como compradores, o que demonstra que, numa recessão nos principais países desenvolvidos do planeta, as perdas de receita de origem nesses dois mercados não seriam tão significativas. No entanto, os efeitos da desaceleração da economia mundial devem atingir em cheio as vendas do Brasil aos vizinhos sul-americanos, os maiores compradores de manufaturados do país. As perdas brasileiras podem chegar a US$6,3 bilhões neste caso.
De acordo com um estudo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as conseqüências serão sentidas em 2009, com uma queda de 15,9% nas vendas para a América do Sul, de US$39,5 bilhões em 2008 para US$33,2 bilhões. A estimativa de redução para o superávit comercial é de 18,5%, caindo de US$14,26 bilhões para US$11,62 bilhões.
- Esses países (da América Latina) são grandes exportadores de commodities (matérias-primas) e estão sendo atingidos pela queda das cotações desses produtos no mercado internacional. Ganhando menos, têm menos dinheiro para comprar - explicou o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.
Aumenta a briga em terceiros mercados
Pelo levantamento, todos os países da América do Sul dependem das exportações como principal fonte de geração de divisas. As vendas estão concentradas em produtos primários, a maioria metais e minerais, que tiveram fortes quedas em suas cotações. Castro não descarta, no caso de alguns desses mercados, até mesmo o registro de déficit comercial:
- Essa diminuição no poder de exportação significará diminuição do poder de importação desses países.
A economia argentina é grande dependente das matérias-primas agropecuárias, cujos preços hoje estão despencando, projetando menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). Como as importações do Brasil se concentram em manufaturados, a redução das compras pode chegar a 15%.
- O comércio em moeda local (peso e real, em vez de dólar), iniciado no último dia 6, poderá amenizar essa possível carência de divisas - explicou Castro.
A Bolívia tem mais de 75% de suas exportações concentradas em commodities minerais e metálicas. Está previsto um decréscimo das importações bolivianas de produtos brasileiros da ordem de 30%. As vendas do Brasil para a Colômbia cairiam 15%, segundo o levantamento e, para o Peru, algo em torno de 20%.
No caso da Venezuela, que se tornou um grande mercado para os empresários brasileiros, a estimativa de diminuição das aquisições do Brasil é de 10% no próximo ano em relação a 2008.
Pelos dados apurados no Ministério do Desenvolvimento no período de janeiro a setembro deste ano, a participação dos EUA na pauta de exportações brasileiras foi de 14,3%, enquanto a União Européia ficou com 23,7%. A Ásia entrou com 19,1% (9,1% somente a China); a América Latina, com 21,7%; a África, 4,9%; o Oriente Médio, 3,9% e o Leste Europeu, 3%.
Isso significa que, teoricamente, haveria bastante espaço para o deslocamento das vendas de produtos nacionais para outros mercados. Entretanto, o que se pode esperar é que o Brasil deve se preparar para uma guerra sem precedentes por terceiros mercados.
-Se os americanos comprarem menos bens de consumo da China, os chineses terão de desovar suas mercadorias em nichos onde já estamos. O grande desafio é sermos cada vez mais competitivos para mantermos e, ao mesmo tempo, conquistarmos mais espaço no mercado externo - salientou o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
Ele enfatizou que existe no governo preocupação com o crescimento do protecionismo no mundo, em razão do desaquecimento do consumo mundial. A adoção de barreiras e o aumento da concorrência desleal, afirmou o secretário, afeta negativamente as boas normas de comércio.
- Há risco de desaquecimento global da economia. Por outro lado, com a desvalorização cambial, e o dólar mais forte, os produtos brasileiros ficam mais competitivos lá fora - observou Barral.
Ele acrescentou também que há dois desafios pela frente: o restabelecimento das linhas de crédito e a estabilização do câmbio em algum patamar, para diminuir a volatilidade.
Para empresários do setor exportador, o dólar deveria ficar entre R$2 e R$2,20. As oscilações na cotação da moeda americana frente ao real vêm prejudicando a negociação de novos contratos. De um lado, os exportadores evitam fazer negócios, temendo prejuízos. De outro, os importadores exigem descontos nas compras com base na conjuntura atual.
O presidente da Associação das Indústrias de Base e Infra-Estrutura (Abdib), Paulo Godoy, disse que a retração da economia mundial é uma realidade que, conseqüentemente, afetará a todos os países. Destacou, entretanto, que o Brasil tem um mercado interno robusto, que deixa o país com vantagens importantes em relação a outras nações.
- Há países com forte dependência das exportações. Temos que investir no mercado interno, principalmente em infra-estrutura, que é bom para o país aqui dentro e em suas relações com o exterior - ressaltou Godoy.
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