sexta-feira, 31 de outubro de 2008

FAB quer mais detalhes de caças

Pedido de Oferta acirra concorrência entre as três finalistas para a venda de 36 aviões

Vasconcelo Quadros

BRASÍLIA - Encarregada de operar a substituição da frota de caças supersônicos da Força Aérea Brasileira (FAB), a Comissão Gerencial do Projeto F-X2 entregou ontem aos representantes da três empresas finalistas – a americana Boeing, a francesa Dassault e a sueca Saab – um Pedido de Oferta, conhecido em inglês como Request For Proposal (RFP), sobre as propostas de cada uma das fabricantes. O projeto de reaparelhamento da Força Aérea Brasileira envolve gastos de US$ 2,5 bilhões na primeira fase, com a compra de 36 caças de multi-emprego, cuja entrega deve começar em 2014 em substituição à atual frota de Mirage 2000, F-5M e A-1M.

Os três caças finalistas são F-18 E/F Super Hornet (peso vazio 13,830 toneladas, 4,88 metros de altura e 13,62 metros de envergadura), da Boeing; o Rafale (9,060 toneladas, 5,3 metros de altura e 10,80 metros de envergadura), da Dassault; e o Gripen NG (6,622 toneladas, 4.5 metros de altura e 8,4 metros de envergadura), da Saab. As empresas devem responder ao pedido, com detalhamento das especificações sobre aspectos comerciais, técnicos, operacionais, logísticos, industriais, compensação comercial e de transferência tecnológica até o dia 2 de fevereiro do ano que vem, data em que começa uma nova etapa deste que deverá se transformar no maior negócio da história da aviação militar brasileira.

Além da substituição, o governo brasileiro quer ampliar seu exército do ar, completando, a médio prazo, uma frota de 120 aeronaves. A Aeronáutica não fala em valores, mas no mercado de aviação estima-se em cerca de US$ 56 milhões o preço de cada caça.

A partir de fevereiro os especialistas da Aeronáutica definem uma nova etapa do negócio, que será composta por visita aos fabricantes e avaliação das aeronaves. Uma vez definidos e atendidos os requisitos operacionais, a comissão passará a considerar também os valores estimados pelos fabricantes.

Um termo de confidencialidade assinado entre a Aeronáutica e as três finalistas evita que vazem detalhes técnicos do projeto, mas sabe-se que os dois pontos mais importantes para o governo brasileiro obrigam que a vencedora se comprometa a transferir toda a tecnologia empregada na fabricação da aeronave e ofereça compensações comerciais atraentes. Ao garantir esses dois itens no negócio, o Alto Comando da Aeronáutica quer o Brasil conquiste espaço para desenvolver sua indústria de aviação para fabricar ou participar do processo de produção de caças de 5ª geração.

O resultado da concorrência deverá ser conhecido até outubro do ano que vem, quando então será assinado o contrato de compra do primeiro lote de 36 aeronaves. O Alto Comando da Aeronáutica quer um avião de ataque moderno, adaptado à realidade brasileira e que o negócio estimule o desenvolvimento de uma indústria nacional de aviões de defesa. Vencerá a empresa que atender o conjunto de exigências da Aeronáutica, cujos detalhes são mantidos em sigilo. Os três finalistas são apresentados em nota do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica em ordem alfabética para evitar especulações sobre quem está com vantagem. A novidade nessa nova fase do projeto, que começou a ser discutido em 1992, mas teve de ser suspenso em 2000, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é a inclusão do F-18 E/F Super Hornet, da Boeing.

As três empresas se dizem aptas a atender as exigências operacionais da FAB. A direção da Boeing chegou a destacar, assim que foi incluída entre as finalistas, que o governo americano havia adotado uma "avançada postura" ao concordar com a transferência de tecnologia. A francesa Dassault contava com a vantagem de ser a fabricante dos caças Mirage que integram a atual frota brasileira. E a sueca Saab, controladora da Gripen International, chegou a inaugurar, na semana passada, um escritório em Brasília, com a finalidade de "estabelecer um relacionamento mais duradouro com o governo brasileiro, com o objetivo de proporcionar o fortalecimento das parcerias tecnológicas com o país". Como se vê, as três estão preparadas para a guerra comercial.

O Alto Comando da Aeronáutica informou, através do Centro de Comunicação Social, que todas as empresas disputam em igualdade de condições e que no final vencerá quem atender os requisitos apresentados pela Comissão Gerencial do Projeto F-X2. O Pedido de Oferta formalizado ontem abre uma nova etapa na seleção, acirrando a concorrência entre as finalistas. No início de outubro, quando decidiu-se pela lista reduzida, a comissão eliminou três empresas que desejavam participar: a americana Lockheed Martin, fabricante do F-35 Lightning II, o consórcio europeu Eurofighter, do Typoon, e a russa Rosoboronecxport, que concorria com o Sukhoi SU 35, o modelo de caça considerado favorito disparado entre os pilotos.

As autoridades brasileiras negam, mas os rumores que circularam no mercado apontam que o motivo da eliminação da Rosoboronecxport teria sido o medo do governo americano de que a presença russa na América do Sul pudesse ser ampliada em função da parceria já existente entre Moscou e o governo Hugo Chaves, na Venezuela. Fontes do mercado acreditam que a rapidez com que a Venezuela adquiriu os caças também pesou na eliminação. O Ministério da Defesa informou, em nota, que a seleção seguiu critérios técnicos exaustivamente analisados e elaborados pela comissão, onde um dos itens que mais pesou foi a transferência de tecnologia.

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