quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Rússia - Líder ordena renovação militar


Líder ordena renovação militar

Estado de prontidão constante para combate vai incluir ampliação também 
do arsenal nuclear



A Rússia vai construir novos escudos de defesa espacial e antimíssil e vai colocar suas Forças Armadas em permanente estado de alerta para combate. Numa escalada abrupta da retórica militar, o presidente russo, Dmitri Medvedev, anunciou as medidas ordenando ainda uma renovação do sistema nuclear e um planejamento para reorganizar totalmente as Forças Armadas até dezembro.

O líder disse que a Rússia deve modernizar suas defesas nucleares em oito anos, plano que inclui a criação de um sistema de defesa aérea e espacial. As medidas colocam a Rússia numa nova corrida armamentista com os Estados Unidos, que enfureceram Medvedev ao tentarem estabelecer um escudo antimíssil na Europa. Os EUA argumentam que o escudo é dirigido a países perigosos como o Irã, mas o Kremlin está convencido de que sua segurança está ameaçada.

Medvedev disse para os comandantes militares que todas as formações de combate precisam ser melhoradas para a categoria de prontidão permanente até 2020. Acrescentou que a Rússia iria começar uma produção em massa de navios de guerra, cruzeiros nucleares com mísseis e submarinos.

– Um sistema nuclear garantido e pronto para várias circunstâncias militares e políticas deve estar pronto até 2020 – urgiu.

As tensões com o Ocidente atingiram um novo patamar desde a guerra da Rússia com a Geórgia, no mês passado. Medvedev alertou a comandantes militares que o conflito revelou que uma "guerra pode surgir de repente e ser absolutamente real".

Os investimentos militares foram anunciados enquanto a Rússia luta contra a entrada da Geórgia e da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A aliança militar vai considerar os pedidos de adesão das antigas nações soviéticas em dezembro.

– Esta apenas é uma jogada estratégica contra o Ocidente. A audiência interna russa ficará bastante impressionada, mas não o Ocidente – minimizou o coronel Marcel de Haas, especialista em segurança russa no Instituto Holandês de Relações Internacionais.

Moscou também declarou abertamente sua ambição de ser um rival dos EUA na América Latina na quinta-feira, quando o primeiro-ministro Vladimir Putin prometeu vender tecnologia nuclear para a Venezuela.

Ontem, Medvedev se encontrou com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, em Orenburg. O líder publicou uma declaração chamando a sua relação com o companheiro latino de uma forma de contabalancear a influência de Washington, e acrescentou que a Venezuela deseja uma maior presença russa na região.

– Estamos prontos para considerar oportunidades para cooperar no uso de energia atômica – Putin disse à Chávez, em Moscou. – A América Latina está se tornando um elo importante do mundo multipolar emergente. Nós prestaremos mais atenção a essa área da nossa economia e política externa.

O anúncio de assistência atômica certamente preocupará os EUA. Moscou já irritou Washington ao entregar urânio enriquecido ao Irã para sua estação de energia, o que gerou a preocupação de que Teerã esteja construindo secretamente uma bomba nuclear.

Chávez há muito tempo cobiça seu próprio programa de energia nuclear, mas insiste que não deseja construir uma bomba atômica.

– Hoje, como nunca antes, tudo que você (Putin) disse sobre o mundo multipolar está se tornando realidade. Não percamos tempo. O mundo está se desenvolvendo rapidamente geopoliticamente – disse Chávez ao líder russo.

Navios russos zarparam na segunda-feira para manobras no Caribe. O exercício será atentamente acompanhado pelas Marinhas ocidentais, por ser a primeira mobilização russa desse tipo – tão próxima da costa dos EUA – desde o fim da Guerra Fria.

Medvedev disse que os exercícios navais em conjunto com a Venezuela demonstram a natureza estratégica da relação entre os dois países. O presidente russo também anunciou o empréstimo de US$ 1 bilhão à Venezuela para comprar armamento russo.

Chávez já gastou US$ 4,4 bilhões desde 2005 em acordos com a Rússia para comprar jatos, tanques e rifles. Os dois países também estreitaram relações entre a Gazprom da Rússia e a empresa estatal de petróleo da Venezuela para criar um consórcio de petróleo e gás.

A Venezuela é o nono maior produtor de petróleo do mundo e um grande fornecedor para os EUA, enquanto a Rússia é a segunda maior exportadora e tem um quarto das reservas globais de gás. Chávez disse que a união forma o maior consórcio de petróleo do mundo.

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