segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Na mira do G-20

Acordo anunciado em Washington prevê monitoramento dos 30 maiores bancos do mundo 

José Meirelles Passos 

 

O que parecia improvável se tornou realidade. O G-20, formado pelos países ricos e os emergentes mais importantes, criou um conjunto de princípios e uma série de medidas a serem aplicadas daqui por diante para neutralizar a atual crise financeira e evitar outras. A expectativa, agora, é que os três países encarregados de colocar o processo em marcha - Brasil, Coréia do Sul e Reino Unido - consigam, de fato, transformar a teoria em prática. 

- O diabo está nos detalhes. Apesar das boas intenções, o progresso será árduo e lento - previu Sung Won Sohn, economista da California State University. 

Das ações consideradas prioritárias, a serem implantadas até 31 de março de 2009, a mais aguardada é a que servirá como o maior teste da nova ordem econômica mundial: a escolha das 30 instituições financeiras multinacionais cujas operações serão monitoradas por uma equipe de supervisores. Trata-se de uma forma de evitar a repetição das falhas, observadas principalmente nos EUA e Europa, que deram origem à crise atual. A primeira providência será criar o chamado "colégio de supervisores", apontando os encarregados da tarefa. Esse colégio seria também um teste para a agência que monitoraria o sistema financeiro global, sobre a qual o G-20 não chegou a um acordo. Se essa monitoração funcionar, pode, no futuro, forçar finalmente a criação da tal agência. 

A providência seguinte é determinar o critério para a escolha dos bancos e financeiras. A tendência é colocar sob tal vigilância os 30 maiores do mundo. Nesse caso, o megabanco Itaú Unibanco poderia ser uma delas.  

 

Sarkozy: EUA já não são o único poder no mundo 

Outra ação prioritária vai depender da disposição de cada um dos 20 países que no sábado firmaram um compromisso de trabalhar em conjunto. Trata-se da criação de um estímulo fiscal, compatível com a necessidade de cada país, para forjar um crescimento econômico sólido. 

- O estímulo de cada país poderá ser duas vezes mais efetivo para aumentar o crescimento da produção doméstica se os seus maiores parceiros comerciais também tiverem um pacote - disse o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. 

Segundo seus cálculos, para evitar que a recessão em EUA, Europa e Japão se alastre para o mundo todo, seria preciso que os países produzissem um estímulo equivalente a pelo menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global, estimado em US$62 trilhões: 

- Se isso for bem coordenado poderá provocar alta de 2 pontos no PIB mundial. 

O acordo não foi tão fácil quanto deu a entender a declaração final. Houve fortes disputas nos bastidores, em especial entre os países ricos. Foi difícil convencer o presidente da França, Nicolas Sarkozy, a aceitar uma moratória de 12 meses sobre medidas comerciais protecionistas. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, resumiu o clima: 

- Esse processo foi um parto muito dolorido de uma nova ordem global. 

Todos concordaram que a reunião marcou uma histórica mudança de poder, devido à participação ativa dos países emergentes. Notava-se uma inversão de papéis. De um lado a China, com US$2 trilhões de reservas; de outro, os EUA, com uma dívida de US$10 trilhões. 

- Os EUA ainda são o poder número um no mundo, não mais o único - disse Sarkozy. 

Mas a imprensa americana mostrou ceticismo. Para o "Wall Street Journal", o G-20 teve unidade "mas ofereceu basicamente promessas". "New York Times" e "Los Angeles Times" lembraram que as decisões mais difíceis dependerão de quem não estava lá: Barack Obama.

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