segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Brasil e a Crise

Marola Econômica
Desaceleração do PIB já começa no 4º tri 

Cibelle Bouças, de São Paulo

Os três últimos meses de 2008 já mostram os reflexos de dois fatores de desaceleração para a economia brasileira - a crise internacional e os aumentos na taxa básica de juros, iniciados em abril. Para os economistas, o resultado do quarto trimestre será um termômetro para a economia no próximo ano. As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o período estão entre 3% e 4% na comparação com os últimos três meses de 2007, o que já representa uma perda de ânimo em relação aos três primeiros trimestres deste ano, que apresentaram expansão de 5,9%, 6,1% e 5% (esse último é a mediana das projeções, pois o PIB será divulgado em dezembro).

No cenário pessimista, o crescimento sobre o terceiro trimestre seria nulo, o que, se confirmado, representaria o pior resultado desde o terceiro trimestre de 2005, quando houve recuo de 0,7%, como efeito da crise política da época. Os mais otimistas prevêem crescimento na margem de 0,8%, o que também representaria desaceleração em relação aos outros trimestres do ano, que apresentaram expansão de 0,8%, 1,6% e 1%, segundo a média das projeções.

Otimistas ou pessimistas, as projeções apontam redução no ritmo de crescimento de todos os componentes do PIB do lado da demanda - formação bruta de capital fixo (investimentos), consumo do governo, consumo das famílias, importações e exportações. Ainda assim, o resultado do ano pode deixar de "herança estatística" ("carry over") para 2009 um crescimento de 1% a 2,4%.

A LCA Consultores e a MB Associados projetam para o quarto trimestre um crescimento de 3%, na comparação com os mesmos três meses do ano passado. A LCA estima crescimento zero sobre o terceiro trimestre, feito o ajuste sazonal, enquanto a MB prevê incremento de 0,2%, "com risco de ficar no terreno negativo", segundo o economista-chefe Sérgio Vale. A diferença decorre das estimativas para o terceiro trimestre (de 6,4% pela LCA e 5,1% pela MB).

"Ainda é cedo para qualquer previsão adequada sobre o quarto trimestre, mas certamente será mais fraco do que vinha sendo", afirma Vale. Para ele, a queda na produção e nas vendas de veículos em outubro, a restrição maior ao crédito e os indicadores de inadimplência sinalizam uma contenção na produção e no consumo. "Deve haver aumento no consumo em dezembro em relação ao ano passado, mas certamente não será como foi em 2007."

Já o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, acredita que a redução no ritmo de expansão dos investimentos terá efeito mais efetivo sobre o PIB que a desaceleração do consumo. "O investimento deve dar uma boa travada, principalmente no que se refere à construção civil, que vinha puxando o PIB nos meses anteriores. No consumo o efeito deve ser mais forte no ano que vem", afirma. O desempenho da atividade econômica em outubro foi fraco, influenciado pela escassez de crédito e pela forte oscilação do câmbio, fatores que prejudicaram principalmente as exportações. Borges estima que os resultados de novembro e dezembro sejam melhores que os de outubro, o que permitiria um crescimento de 3% no último trimestre, após 5,3% no terceiro.

O crescimento em menor escala da economia no fim do ano ainda proporcionará ao PIB de 2009 uma herança estatística de crescimento de 1%. O "carry over" de 2007 para 2008 foi de 2,6%. "Se o país crescer zero em todos os trimestres em comparação com este ano, o aumento do PIB ainda será de 1%", explica Borges, que prevê para 2009 expansão do PIB de 3,3%.

Para Borges, a demanda interna (que engloba consumo das famílias e do governo e investimentos) sai de um crescimento de 7% em 2008 para 4,1% em 2009. O setor externo, que neste ano deve dar contribuição negativa de 2,2%, passará para um resultado positivo de 0,8%, com a redução no ritmo de alta das importações de 20% para 7,4%. A formação bruta de capital fixo, que neste ano deve crescer 15%, subiria 3,8% em 2009. "De todos os componentes do PIB é o que vai mais sofrer, mas principalmente no quarto trimestre de 2008 e no primeiro semestre de 2009", diz.

O Banco Real, que segue as projeções do Santander, projeta para o quarto trimestre expansão de 3,7% do PIB, com crescimento na margem de 0,3%, após 5,4% no terceiro trimestre e de 1,1% na margem, com ajuste sazonal. "Os salários ainda estão crescendo com ganhos reais. Também há expansão das transferências governamentais e o crédito, que teve perdas de liquidez, aos poucos está se normalizando", avalia o economista-chefe do Real, Cristiano Souza. A desaceleração da economia no quarto trimestre proporcionará um crescimento do PIB de 5,3% neste ano e uma herança estatística de 1,7% para 2009, quando a economia deverá crescer 2,5%, na avaliação do economista.

O economista-chefe da Convenção Corretora, Fernando Montero faz projeções semelhantes. Ele prevê para o terceiro trimestre crescimento de 6% do PIB e, no quarto trimestre, de 4,3%, em comparação com igual intervalo de 2007. O incremento na margem deve ser de 1,3% no terceiro trimestre e de 0,4% no último trimestre do ano. Alcançados esses resultados, o PIB encerraria 2008 com crescimento de 5,5% deixando um "arrasto estatístico" de 1,4%. "Se o PIB confirmasse nossa projeção de 6% até o terceiro trimestre, seria preciso despencar para 2% no quarto trimestre para fechar em 5%", calcula Montero.

Montero prevê uma desaceleração significativa no ritmo de expansão dos grupos agropecuário, industrial e de serviços, e desaceleração da absorção interna mais forte que do PIB. "Um ajustamento forte de estoques, movido por temor e necessidade de capital de giro, poderia desacelerar mais intensamente a atividade no quarto trimestre, mas traria alivio na passagem para 2009", observa Montero.

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