Cibelle Bouças, de São Paulo
Os três últimos meses de 2008 já mostram os reflexos de dois fatores de desaceleração para a economia brasileira - a crise internacional e os aumentos na taxa básica de juros, iniciados em abril. Para os economistas, o resultado do quarto trimestre será um termômetro para a economia no próximo ano. As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o período estão entre 3% e 4% na comparação com os últimos três meses de 2007, o que já representa uma perda de ânimo em relação aos três primeiros trimestres deste ano, que apresentaram expansão de 5,9%, 6,1% e 5% (esse último é a mediana das projeções, pois o PIB será divulgado em dezembro).
No cenário pessimista, o crescimento sobre o terceiro trimestre seria nulo, o que, se confirmado, representaria o pior resultado desde o terceiro trimestre de 2005, quando houve recuo de 0,7%, como efeito da crise política da época. Os mais otimistas prevêem crescimento na margem de 0,8%, o que também representaria desaceleração em relação aos outros trimestres do ano, que apresentaram expansão de 0,8%, 1,6% e 1%, segundo a média das projeções.
Otimistas ou pessimistas, as projeções apontam redução no ritmo de crescimento de todos os componentes do PIB do lado da demanda - formação bruta de capital fixo (investimentos), consumo do governo, consumo das famílias, importações e exportações. Ainda assim, o resultado do ano pode deixar de "herança estatística" ("carry over") para 2009 um crescimento de 1% a 2,4%.
A LCA Consultores e a MB Associados projetam para o quarto trimestre um crescimento de 3%, na comparação com os mesmos três meses do ano passado. A LCA estima crescimento zero sobre o terceiro trimestre, feito o ajuste sazonal, enquanto a MB prevê incremento de 0,2%, "com risco de ficar no terreno negativo", segundo o economista-chefe Sérgio Vale. A diferença decorre das estimativas para o terceiro trimestre (de 6,4% pela LCA e 5,1% pela MB).
"Ainda é cedo para qualquer previsão adequada sobre o quarto trimestre, mas certamente será mais fraco do que vinha sendo", afirma Vale. Para ele, a queda na produção e nas vendas de veículos em outubro, a restrição maior ao crédito e os indicadores de inadimplência sinalizam uma contenção na produção e no consumo. "Deve haver aumento no consumo em dezembro em relação ao ano passado, mas certamente não será como foi em 2007."
Já o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, acredita que a redução no ritmo de expansão dos investimentos terá efeito mais efetivo sobre o PIB que a desaceleração do consumo. "O investimento deve dar uma boa travada, principalmente no que se refere à construção civil, que vinha puxando o PIB nos meses anteriores. No consumo o efeito deve ser mais forte no ano que vem", afirma. O desempenho da atividade econômica em outubro foi fraco, influenciado pela escassez de crédito e pela forte oscilação do câmbio, fatores que prejudicaram principalmente as exportações. Borges estima que os resultados de novembro e dezembro sejam melhores que os de outubro, o que permitiria um crescimento de 3% no último trimestre, após 5,3% no terceiro.
O crescimento em menor escala da economia no fim do ano ainda proporcionará ao PIB de 2009 uma herança estatística de crescimento de 1%. O "carry over" de 2007 para 2008 foi de 2,6%. "Se o país crescer zero em todos os trimestres em comparação com este ano, o aumento do PIB ainda será de 1%", explica Borges, que prevê para 2009 expansão do PIB de 3,3%.
Para Borges, a demanda interna (que engloba consumo das famílias e do governo e investimentos) sai de um crescimento de 7% em 2008 para 4,1% em 2009. O setor externo, que neste ano deve dar contribuição negativa de 2,2%, passará para um resultado positivo de 0,8%, com a redução no ritmo de alta das importações de 20% para 7,4%. A formação bruta de capital fixo, que neste ano deve crescer 15%, subiria 3,8% em 2009. "De todos os componentes do PIB é o que vai mais sofrer, mas principalmente no quarto trimestre de 2008 e no primeiro semestre de 2009", diz.
O Banco Real, que segue as projeções do Santander, projeta para o quarto trimestre expansão de 3,7% do PIB, com crescimento na margem de 0,3%, após 5,4% no terceiro trimestre e de 1,1% na margem, com ajuste sazonal. "Os salários ainda estão crescendo com ganhos reais. Também há expansão das transferências governamentais e o crédito, que teve perdas de liquidez, aos poucos está se normalizando", avalia o economista-chefe do Real, Cristiano Souza. A desaceleração da economia no quarto trimestre proporcionará um crescimento do PIB de 5,3% neste ano e uma herança estatística de 1,7% para 2009, quando a economia deverá crescer 2,5%, na avaliação do economista.
O economista-chefe da Convenção Corretora, Fernando Montero faz projeções semelhantes. Ele prevê para o terceiro trimestre crescimento de 6% do PIB e, no quarto trimestre, de 4,3%, em comparação com igual intervalo de 2007. O incremento na margem deve ser de 1,3% no terceiro trimestre e de 0,4% no último trimestre do ano. Alcançados esses resultados, o PIB encerraria 2008 com crescimento de 5,5% deixando um "arrasto estatístico" de 1,4%. "Se o PIB confirmasse nossa projeção de 6% até o terceiro trimestre, seria preciso despencar para 2% no quarto trimestre para fechar em 5%", calcula Montero.
Montero prevê uma desaceleração significativa no ritmo de expansão dos grupos agropecuário, industrial e de serviços, e desaceleração da absorção interna mais forte que do PIB. "Um ajustamento forte de estoques, movido por temor e necessidade de capital de giro, poderia desacelerar mais intensamente a atividade no quarto trimestre, mas traria alivio na passagem para 2009", observa Montero.
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