terça-feira, 25 de novembro de 2008

Meia Amazônia, não

Greenpeace lança campanha internacional contra lei que aumenta área das reservas florestais sujeita a ser desmatada

Hugo Marques

 

TERRA ARRASADA - Projeto abre caminho para aumento do desmatamento da Amazônia

O Greenpeace mobilizou seus escritórios em 30 países, nesta semana, para abrir uma campanha mundial contra a aprovação do projeto de lei conhecido como Floresta Zero. A tradicional ONG denuncia uma proposta que tramita no Congresso prevendo a redução de 80% para 50% nas reservas legais de propriedades privadas. Além da redução das reservas, o relator do projeto, deputado Jorge Khoury, do DEM baiano, quer compensar o desmatamento da Amazônia com a possibilidade de se fazer reflorestamento em outras áreas. Para o Greenpeace trata-se simplesmente de um incentivo ao desmatamento da Floresta Amazônica. A Comissão de Meio Ambiente da Câmara quer votar o projeto ainda neste ano. “Estamos acionando ambientalistas no planeta inteiro contra esta proposta e recolhendo assinaturas nos países”, diz Joanna Guinle, coordenadora da campanha Meia Amazônia Não, do Greenpeace. “Vamos fazer um protesto agressivo.” O Greenpeace tem muitos aliados, entre eles o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que é contra o projeto do jeito que está. “Não podemos eliminar mecanismos de defesa das florestas e das áreas de preservação, como matas nas margens dos rios e reservas legais”, diz Minc. “É a ameaça que está embutida neste projeto.”

Mas a proposta também tem defensores de peso, como o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Ele acha que o projeto deveria separar a Amazônia do resto do Brasil, já que seria impossível restituir reservas em muitas áreas das regiões Sul e Sudeste. “Não podemos tratar tudo da mesma forma”, diz Stephanes. “Eu diria que hoje 50% dos pequenos e médios agricultores não agem de acordo com a lei ambiental.” O ministro disse à ISTOÉ que uma das saídas em estudo é a indenização dos agricultores da Amazônia para que não desmatem. Isso seria feito através de fundo pago por Estados em que a recomposição da vegetação é inviável.

Na terça-feira 18, Stephanes bateu boca com o coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista e líder do PV na Câmara, deputado Sarney Filho. “Vocês vão acabar com a agricultura familiar”, disse Stephanes, durante a reunião, ao ver na lista de sugestões a proposta de prisão de agricultores que desmatam. Sarney Filho admitiu que os ânimos ficaram exaltados. “Houve frustração do segmento ruralista e o ministro demonstrou isso na reunião”, diz o deputado. “O ministro estava bravo, sem disposição para o diálogo.”

Os ânimos estão exaltados também na Câmara. O deputado paraense Nilson Pinto (PSDB), membro da Comissão de Meio Ambiente, defende plantas exóticas para reflorestar áreas desmatadas na Amazônia, mas se irrita quando perguntado se isso inclui canade- açúcar e dendezeiro. “Meu amigo, o que atrapalha a tramitação do projeto são essas perguntas absolutistas, como a possibilidade de plantar dendê na Amazônia.” Coordenador da Campanha da Amazônia do Greenpeace, Márcio Astrini lamenta o rumo das discussões: “O meio ambiente não tem maioria na Comissão do Meio Ambiente da Câmara, quem tem é a bancada ruralista.”

 

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