quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Rússia e Brasil: mais perto que nunca

Isenção da necessidade de vistos entre as nações marca novo patamar nas relações bilaterais

Marsílea Gombata

 

"Brasil e Rússia estão mais próximos do que a distância geográfica sugere". A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reflete um momento auspicioso das relações entre Brasil e Rússia – os parceiros nos Brics nunca estiveram tão próximos. E o maior símbolo dessa cooperação foi acertado ontem, com o Acordo para Supressão de Vistos para Portadores de Passaportes Comuns, assinado pelos chanceleres Celso Amorim e Sergei Lavrov – seguido por tapinhas nas costas – no Palácio do Itamaraty, no Rio.

– Sabemos que para isso (aumentar a cooperação bilteral), precisamos aproximar nossos povos – lembrou Lula. – Com esse novo termo, teremos mais fluxo de pessoas entre os dois países.

O encontro, que confirmou a determinação dos dois líderes em aprofundar a Parceria Estratégica bilateral, lançada em 2002, celebrou também o 180° aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre os países.

– Nos próximos dois ou três anos, no entanto, devemos fazer muito mais do que foi feito nesses anos – sinalizou Medvedev.

 

Acordos

Na reunião, estritamente pragmática, os dois mandatários assinaram acordos de cooperação entre os dois governos. Num deles, foi estabelecido o apoio russo para modernização do Veículo Lançador de Satélites brasileiro (VLS), além do desenvolvimento do sistema de satélite com base na tecnologia russa do Glosnass (o GPS russo).

Os acordos firmados de Cooperação Aero-Militar e Técnico-Militar têm por objetivo dar continuidade ao contrato entre o Comando da Aeronáutica do Brasil e a Empresa Federal Estatal Unitária Rosoboronexport, relativo à aquisição de helicópteros MI-35-M, apoio técnico para manutenção das aeronaves, além de fortalecer a colaboração entre a Aeronáutica e o Serviço Técnico-Militar Russo, e permitir a formação de parcerias para o desenvolvimento de novas tecnologias no setor de defesa.

Após a assinatura dos acordos, Lula fez questão de sublinhar o interesse do governo brasileiro em receber investimentos russos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

– Acredito que a Rússia poderia colaborar na parte de infra-estrutura das hidrelétricas que estão sendo feitas – pediu.

O presidente brasileiro reafirmou, ainda, as posições brasileira e russa quanto à necessidade de fortalecer e reformar a Organização das Nações Unidas e agradeceu o apoio de Moscou à candidatura do Brasil para membro permanente do Conselho de Segurança.

 

Cultura

Durante o encontro, o setor cultural recebeu especial atenção. Enquanto Lula elogiou o desempenho das atividades da escola do Teatro Bolshoi em Joinville, Santa Catarina, Medvedev mostrou entusiasmo em relação às escolas brasileiras de futebol na Rússia:

– Também queremos atingir o nível que tem o futebol brasileiro. Em visita ao Maracanã, ontem, tive muito prazer em ver como tratam esse esporte aqui.

No setor econômico, Medvedev assinalou que o caminho para se evitar a dupla tributação é fundamental para a cooperação entre empresários dos dois países. O Brasil é, atualmente, o principal parceiro comercial de Moscou na América Latina. A troca comercial entre os países triplicou desde 2003 e fechará o ano em torno de US$ 6 bilhões. 

Depois de concordarem sobre a urgência da criação de mecanismos contra a crise atual – classificada por Lula como oportunidade para fortalecer os Brics – os líderes concordaram com a realização da primeira reunião do grupo na Rússia, no ano que vem.

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