quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Cúpula do Bric será em Moscou

Lula e Medvedev anunciam no Rio a realização de reunião dos líderes de Brasil, Rússia, Índia e China em 2009. Presidentes assinam acordos nas áreas espacial e militar, além de isenção de visto para turistas

Da Redação

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega russo, Dmitri Medvedev, pretendem realizar em Moscou, no próximo ano, a primeira cúpula do Bric — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Os quatro países reuniram-se como grupo pela primeira vez no encontro de ministros de Finanças do G-20 em São Paulo, realizado este mês, e divulgaram um comunicado conjunto pedindo maior participação dos países emergentes nas questões mundiais e sobre a economia global. 

O chefe de Estado brasileiro declarou que a crise é uma oportunidade para os países em desenvolvimento. Lula comentou que essas nações já respondem hoje por mais de 60% do crescimento da economia mundial e disse esperar que elas “não permitam que a crise prejudique o crescimento e a geração de empregos”. O presidente lembrou que Brasil e Rússia defendem mecanismos de regulação transparente em relação à economia e querem evitar atitudes protecionistas no comércio, com a conclusão da Rodada Doha ainda este ano. 

Ele ainda citou o apoio dado à entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e agradeceu o interesse de Moscou ao pleito brasileiro de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Lula disse que os dois países têm potencial para diversificar o comércio bilateral. “Não podemos ficar apenas nas commodities”, ressaltou. “Falei com ele (Medvedev) sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A Rússia poderia fornecer equipamentos para novas usinas hidrelétricas no Brasil”, comentou o brasileiro. Ele ainda destacou a importância do acordo bilateral no setor aerospacial, manifestando “pleno apoio aos trabalhos de modernização do Veículo Lançador de Satélites brasileiro (VLS)”. 

Em 2003, um incêndio na plataforma do VLS, no Centro de Lançamentos de Alcântara, causou a morte de 21 técnicos brasileiros. Desde então, especialistas russos trabalham em São José dos Campos (SP), nas instalações do Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), em cooperação com engenheiros nacionais. A idéia é desenvolver um primeiro estágio que use combustível líquido, em lugar do atual, que emprega material sólido. Ontem, as duas partes também firmaram um acordo que permite ao Brasil integrar-se ao sistema de posicionamento global de Moscou, o Glonass. 

Assunto de principal interesse do empresariado brasileiro, a exportação de carnes não foi citada no documento conjunto. O Brasil é o maior fornecedor do produto para o mercado russo, mas as vendas vêm caindo nos últimos anos em função de medidas protecionistas. Moscou estabeleceu cotas que limitam a entrada do produto, de acordo com cada fornecedor. Na última revisão, os produtores nacionais ficaram na categoria outros, o que favoreceu produtores europeus e norte-americanos. 

 

Consolação 

O governo brasileiro também assinou um acordo militar-tecnológico, abrangendo a cooperação direta entre as duas partes, o sigilo tecnológico e a proteção dos direitos autorais dos equipamentos militares. Além disso, confirmou a compra de 12 helicópteros de combate Mil Mi-35M, que serão empregados no combate ao narcotráfico pela Força Aérea Brasileira. O contrato, estimado em US$ 300 milhões, serve como compensação à desclassificação da Sukhoi no programa F-X2 — concorrência para aquisição de 24 a 36 caças supersônicos, estimada em US$ 2,4 bilhões. 

O Itamaraty, por sua vez, comemorou o fim dos vistos para viagens de turismo com duração inferior a 90 dias. “O processo era extremamente burocrático e chegava a levar dois meses”, comentou um diplomata.

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