Mudança proposta pela Defesa divide militares
O ministro Nelson Jobim visita a Escola Superior de Guerra
ANDRÉ ZAHAR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO
A possível transferência para Brasília da ESG (Escola Superior de Guerra), sediada há 59 anos no Rio, causa inquietação entre militares. A proposta é estudada pelo governo federal no âmbito da Estratégia Nacional de Defesa e deve ser encaminhada ao Congresso no início de dezembro. Um dos principais defensores, o ministro Nelson Jobim (Defesa) alega a necessidade de incrementar a produção de pesquisa e a formação de quadros civis na área da sua pasta.
Procurado pela Folha, Jobim disse, por meio de sua assessoria, que "o que está sendo proposto em relação à ESG é a transferência da sede da instituição para Brasília sem prejuízo de sua presença no Rio de Janeiro". No e-mail enviado à reportagem, ele acrescenta que os detalhes da transferência serão acertados depois de a proposta ser aprovada. Ao saber da intenção do ministério, no início de novembro, o comandante da ESG, almirante Luiz Umberto de Mendonça, determinou ao corpo permanente do instituto a preparação de um relatório detalhado sobre a mudança. O documento, encaminhado à Defesa em novembro, sustenta que a mudança implicaria um custo maior de manutenção e de ajuda de custo para os alunos.
"A síntese do estudo é que transferir a ESG para Brasília é viável, mas para ela continuar as tarefas que hoje realiza no Rio terá um custo mais alto. Se o poder político levar a escola para Brasília entende-se que está disposto a aportar os recursos necessários para que ela não tenha prejuízo das suas atividades", diz Mendonça.
O militar evita críticas diretas à proposta, mas teme pela autonomia da instituição. Mendonça considera ainda que o trabalho acadêmico pode ser prejudicado com a distância do eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais, "onde se concentra a maioria das universidades, setores de produção de defesa e centros de estudos científicos e tecnológicos".
"O universo acadêmico não se restringe a esse triângulo do Sudeste, como demonstra a vibrante produção da UnB (Universidade de Brasília), e de dezenas de centros de pesquisa espalhados pelo Brasil, muitos vocacionados para as realidades locais (Amazônia, semi-árido etc.), com conhecimentos essenciais à Defesa Nacional", rebate a nota do ministério.
O vice-almirante da reserva Sérgio Tasso Vásquez de Aquino, que foi vice-presidente da Adesg (Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra) em 2001 e 2002, faz ressalvas à mudança. "Além da ESG, as Escolas de Guerra Naval, de Comando do Estado Maior do Exército e de Comando do Estado Maior da Aeronáutica ficam no Rio. Existe uma grande troca de informações, estudos e professores entre essas escolas. É mais um motivo para a ESG ficar aqui." Para Aquino, a presença da ESG no Rio a deixa "mais imune às influências deletérias do poder". "Com todos esses processos de informática, não precisa ficar perto do centro de poder", completa.
O presidente do Clube Militar do Rio, general da reserva Gilberto Barbosa de Figueiredo, tem opinião diferente. Ele considera que a ESG "precisa ser repensada". "Quando o Rio era capital da República, o corpo político estava aqui. Hoje está difícil conseguir estagiários [alunos] representativos do segmento do Judiciário e do Legislativo. Sob esse aspecto, Brasília é mais central", observa.
Colaborou RAPHAEL GOMIDE , da Sucursal do Rio.
O ministro Nelson Jobim visita a Escola Superior de Guerra
ANDRÉ ZAHAR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO
A possível transferência para Brasília da ESG (Escola Superior de Guerra), sediada há 59 anos no Rio, causa inquietação entre militares. A proposta é estudada pelo governo federal no âmbito da Estratégia Nacional de Defesa e deve ser encaminhada ao Congresso no início de dezembro. Um dos principais defensores, o ministro Nelson Jobim (Defesa) alega a necessidade de incrementar a produção de pesquisa e a formação de quadros civis na área da sua pasta.
Procurado pela Folha, Jobim disse, por meio de sua assessoria, que "o que está sendo proposto em relação à ESG é a transferência da sede da instituição para Brasília sem prejuízo de sua presença no Rio de Janeiro". No e-mail enviado à reportagem, ele acrescenta que os detalhes da transferência serão acertados depois de a proposta ser aprovada. Ao saber da intenção do ministério, no início de novembro, o comandante da ESG, almirante Luiz Umberto de Mendonça, determinou ao corpo permanente do instituto a preparação de um relatório detalhado sobre a mudança. O documento, encaminhado à Defesa em novembro, sustenta que a mudança implicaria um custo maior de manutenção e de ajuda de custo para os alunos.
"A síntese do estudo é que transferir a ESG para Brasília é viável, mas para ela continuar as tarefas que hoje realiza no Rio terá um custo mais alto. Se o poder político levar a escola para Brasília entende-se que está disposto a aportar os recursos necessários para que ela não tenha prejuízo das suas atividades", diz Mendonça.
O militar evita críticas diretas à proposta, mas teme pela autonomia da instituição. Mendonça considera ainda que o trabalho acadêmico pode ser prejudicado com a distância do eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais, "onde se concentra a maioria das universidades, setores de produção de defesa e centros de estudos científicos e tecnológicos".
"O universo acadêmico não se restringe a esse triângulo do Sudeste, como demonstra a vibrante produção da UnB (Universidade de Brasília), e de dezenas de centros de pesquisa espalhados pelo Brasil, muitos vocacionados para as realidades locais (Amazônia, semi-árido etc.), com conhecimentos essenciais à Defesa Nacional", rebate a nota do ministério.
O vice-almirante da reserva Sérgio Tasso Vásquez de Aquino, que foi vice-presidente da Adesg (Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra) em 2001 e 2002, faz ressalvas à mudança. "Além da ESG, as Escolas de Guerra Naval, de Comando do Estado Maior do Exército e de Comando do Estado Maior da Aeronáutica ficam no Rio. Existe uma grande troca de informações, estudos e professores entre essas escolas. É mais um motivo para a ESG ficar aqui." Para Aquino, a presença da ESG no Rio a deixa "mais imune às influências deletérias do poder". "Com todos esses processos de informática, não precisa ficar perto do centro de poder", completa.
O presidente do Clube Militar do Rio, general da reserva Gilberto Barbosa de Figueiredo, tem opinião diferente. Ele considera que a ESG "precisa ser repensada". "Quando o Rio era capital da República, o corpo político estava aqui. Hoje está difícil conseguir estagiários [alunos] representativos do segmento do Judiciário e do Legislativo. Sob esse aspecto, Brasília é mais central", observa.
Colaborou RAPHAEL GOMIDE , da Sucursal do Rio.
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