A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) alertou o governo sobre os riscos de conflito armado, qualquer que seja a decisão da Justiça em torno da demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e pediu envio de tropas federais ao local. "A decisão pode levar ao uso da força porque a ausência do Estado gerou um vazio de poder e os ânimos se acirraram na região", disse o presidente da CNBB, d. Geraldo Lyrio Rocha. "O barril de pólvora está formado e qualquer que seja a decisão do supremo haverá resistência", disse o vice-presidente, d. Luiz Vieira.Na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) decide se mantém a demarcação da reserva em área contínua, como prevê decreto do governo, ou se divide a terra em ilhas, para manter no local povoados, fazendeiros e plantadores de arroz. Na última tentativa de desocupação da área, houve resistência armada, atos de sabotagem e até explosão de pontes. Com 1,7 milhão de hectares, área maior que Santa Catarina, a reserva fica na fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana e concentra cerca de 20 mil índios de seis etnias, sobretudo macuxi, uapixana e ingaricó.A CNBB entregou nota técnica ao presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, em defesa da demarcação em área contínua. "Seria um contra-senso e um retrocesso se o governo voltasse atrás na demarcação em área contínua", afirmou d. Geraldo. Porém, o bispo disse que a intenção "não é pressionar a decisão livre e soberana" do tribunal, mas expressar "a preocupação e a convicção" dos representantes da igreja em relação ao tema, o qual considera vital para a dignidade do povo indígena e para balizar futuras decisões judiciais em torno de terras indígenas.ReforçoInformado de que o clima na região está pesado, o Ministério da Justiça determinou o reforço de tropas da Polícia Federal (PF) e da Força Nacional de Segurança Pública na região. A PF mantém mais de 300 homens na área e outros 100 podem ser deslocados neste fim de semana da áreas próximas. A Força Nacional tem 120 homens em pontos estratégicos dentro da reserva e já mandou mais 27.O secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, determinou que o efetivo da Força seja dobrado na região e neste fim de semana outros cem homens devem ser deslocados para lá, de modo que estejam em posição de agir no dia do julgamento e nos seguintes, até que a situação esteja pacificada. "Estamos nos preparando para os dois cenários e definindo estratégias para dar suporte à decisão do STF, seja em favor dos arrozeiros ou dos índios", disse o dirigente.
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